16 de dez. de 2010

Tiririca, a educação nacional e o analfabeto funcional


Infelizmente, cerca de 50% das crianças do 5º ano do ensino fundamental não passariam no teste do Tiririca.
Por João Batista Oliveira

14/12/2010


O Ministério da Educação (MEC) e o Tribunal Eleitoral têm muito a aprender um com o outro. O segundo pode ensinar ao primeiro o que significa alfabetizar. Já o MEC deve mostrar ao tribunal o que é compreender um texto. Essa troca de informações, sem dúvida, contribuirá para melhorar a educação e o nível dos nossos políticos. Na agenda pós-eleitoral, uma nova avaliação: a prova do Tiririca.

Conforme noticiou a imprensa, foi determinada a realização de uma prova de leitura e ditado ao recém-eleito vencedor das urnas. Nada mais acertado. Qualquer cidadão sabe que essa é a prova de fogo da alfabetização: escreveu, não leu, o pau comeu! Ler e escrever se avaliam com instrumentos tão simples quanto um ditado e leitura de um texto corriqueiro. Qualquer pessoa alfabetizada é capaz de montar, aplicar e corrigir uma prova dessas.

A educação no Brasil teria enormes chances de melhorar se o MEC e as secretarias de Educação fizessem, com a mesma presteza, essa checagem no fim do 1º ano do ensino fundamental. Pena que a imposição ao Tiririca não se estenda às instituições que elaboram testes de alfabetização e às faculdades que formam nossos professores, e que, há décadas, deixaram de formar professores alfabetizadores. A alfabetização das crianças é o primeiro gargalo da educação no país. É o primeiro passo a ser conquistado em qualquer nação que pratica educação de qualidade.

Infelizmente, cerca de 50% das crianças do 5º ano do ensino fundamental não passariam no teste do Tiririca. O mais grave: nunca foram submetidas, de fato, a uma prova como essa agora proposta. No lugar dos mirabolantes testes de alfabetização que andam por aí, se isso tivesse ocorrido, viveríamos em outro país. Pesquisas do Instituto Montenegro mostram que apenas 30% dos adultos de qualquer nível de escolaridade conseguem compreender o que está escrito nos textos do cotidiano.

Alfabetizar é isso: ser capaz de ler e escrever qualquer palavra da língua. A pessoa deve ser capaz de grafar as palavras, de forma legível e respeitando as regras da representação fonética e ortográfica. Se o aplicador do teste ditar “é ladrão de mulher”, Tiririca não poderá escrever “muié”, sob o risco de perder o seu registro. Se ditar “ficha limpa”, não vale escrever “fixa limpa”. Na leitura, é preciso que o ouvinte entenda o que foi lido — e isso exige um mínimo de fluência, e não apenas a capacidade de ler silabando ou ler palavras: Ho-je/é/di-a/de/cir-co!

Se houvesse um padrão mínimo na educação nacional, seria exigido — e bastaria isso — dos candidatos um diploma de determinado nível de ensino, da mesma forma que qualquer empregador sabe o que significa um diploma do Senai, quando recruta um trabalhador na indústria. Hoje, o documento de conclusão de ensino fundamental ou mesmo de ensino médio não garante que o portador saiba ler e escrever. Muito menos se compreende o que lê.

Compreensão na leitura é o mínimo que se pode esperar de um legislador, ainda que seja um legislador oriundo do povo. Ninguém ignora que adultos analfabetos são capazes de compreender muita coisa. Mas na sociedade do conhecimento é preciso ir muito mais além. Aprender sozinho, lendo, refletindo e se expressando por escrito, é requisito mínimo do século passado e já estamos na segunda década do século XXI.

As orientações do MEC nas últimas décadas têm insistido na questão da compreensão, mas suas recomendações ignoram dois componentes básicos para que ocorra. Primeiro, que o aluno seja alfabetizado, que saiba ler e escrever. Segundo, que entenda a estrutura de sua língua, que saiba usar a gramática, que não tenha dúvidas a respeito da diferença entre os que “foram” e os que “forem” alfabetizados ou condenados pela Justiça. Só esses terão uma ficha limpa da educação. Tiririca, obrigado pela lição que seu julgamento oferece ao Brasil!

Fonte: Instituto Millenium




12 de dez. de 2010

A infoguerra já tem seu primeiro wiki-mártir?


A infoguerra já tem seu primeiro wiki-mártir?


Julian Assange, fundador do WikiLeaks, virou provavelmente o primeiro homem caçado pela Interpol por não ter usado camisinha

10/12/2010

Há uma semana, na sexta-feira dia 3 de dezembro, a organização WikiLeaks sofria o mais duro golpe desde que começara a publicar em seu site os segredos – uns inconfessáveis, outros não tão secretos assim – da diplomacia norte-americana.

Naquele dia, o WikiLeaks, o site, chegou a ficar seis horas fora do ar por ação de hackers que, das duas, uma: ou gostam muito de guardar os segredos alheios ou foram recrutados pelos EUA a peso de ouro. A ação, ou melhor, a ciber-reação contra o WikiLeaks foi tão pesada que o site teve que mudar de endereço para voltar a estar disponível na web com todas as suas… altas indiscrições, por assim dizer.

No calor daquela queda de braço à distância, sem músculos, punhos cerrados ou olho no olho, mais precisamente às 7:32h daquele 3 de dezembro, um velho guru da internet (se é que os gurus da internet podem ser tão velhos assim) cantou a pedra sobre o que estava acontecendo no mundo exatamente naquele momento.

John Perry Barlow escreveu a seguinte mensagem em sua página no Twitter: “A primeira infoguerra pra valer já começou. O campo de batalha é o WikiLeaks. Vocês são os soldados”.

E ele tinha razão. Nos dias subsequentes à já célebre tuitada de Barlow, o cerco ao WikiLeaks se fechou: o site foi expulso do servidor norte-americano Amazon, as operadoras de cartão de crédito Visa e Mastercard cancelaram as contas de doações online por onde a organização captava recursos para se manter e, por fim, o fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, entregou-se à polícia em Londres após a emissão pela Interpol de uma ordem internacional de prisão contra ele referente a uma acusação de “crime sexual”.

Matar o mensageiro

O curioso é que a Mastercard e a Visa continuam intermediando o recebimento de doações à Ku Klux Klan (http://www.inquisitr.com/92447/ku-klux-klan-i-okay-wikileaks-is-bad-says-mastercard-and-visa/), famigerada organização racista norte-americana, o que indica que a rejeição das duas operadoras ao WikiLeaks não é propriamente moral.

Além disso, uma das duas amigas que foram à polícia dar queixa contra Assange por ele ter feito sexo com elas sem preservativo – queixa estranhamente prestada só dez dias depois de o “crime” ter acontecido – publicou em janeiro deste ano no seu blog um post intitulado “Sete passos para uma vingança judicial”, um guia sobre como incriminar alguém usando acusações ligadas ao sexo. A autora do manual de vingança sexual é colaboradora de sites financiados pela Usaid, agência do governo dos EUA ligada ao Departamento de Estado norte-americano.

O fato é que o WikiLeaks, hoje, já tem mais de 200 endereços online diferentes para se esquivar dos ataques que vêm sofrendo, bem como seu fundador até pouco tempo atrás não podia dormir duas noites no mesmo endereço físico. Agora, parece ter fixado residência na cadeia.

Com a infoguerra declarada, um dos coletivos de hackers mais temidos do mundo, o Anonymous, usou a tuitada de John Perry Barlow como epígrafe de um manifesto lançado na última quarta-feira, 8, conclamando todos a aderirem à “Operação Vingar Assange”, nem que seja votando para que o fundador do WikiLeaks seja escolhido o “Homem do Ano” pela revista Times.

Em mensagem publicada no WikiLeaks pouco antes de se entregar, Assange reclama da anuência do seu próprio país à perseguição movida pelas potências contra si. Ele diz que o governo da Austrália “está tentando atirar no mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informações sobre as suas próprias negociações diplomáticas e políticas”.

Na mesma carta, Assange diz que os políticos “entoam o coro falso” do Departamento de Estado dos EUA: “Você colocará vidas em risco! Segurança nacional! Você colocará em perigo os nossas soldados!”.

Caro leitor,

Você acha que Assange e o WikiLeaks estão tornando o mundo um lugar menos seguro ou prestando um serviço à sociedade?

Como você classificaria Julian Assange: herói, vilão, anti-herói ou mero anarquista?

Em quem você votaria para “Homem do Ano” da revista Times: Assange, Mark Zuckerberg (o fundador do Facebook) ou os 33 mineiros que ficaram presos na mina de San José, no Chile?

Fonte: Opinião e Notícia

15 de nov. de 2010

O golpe militar de 15 de novembro de 1889


Golpe ou proclamação?

Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada! (Aristides Lobo, Diário Popular, 18/11/1889).

É possível considerar a legitimidade ou não da república no Brasil por diferentes ângulos.
Do ponto de vista do "Código Criminal do Império do Brasil", sancionado em 16 de dezembro de 1830, o crime cometido pelos republicanos foi:
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"Art. 87. Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o Imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."

O Visconde de Ouro Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da ditadura militar no Brasil":

" O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos deveram o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de D. Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A República brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A República se levantou sobre os broqueis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na História e terá uma existência efêmera!"

O movimento de 15 de Novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a República, embora tenha sido o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto da população de um modo geral:

• Em 1788-1789, a Inconfidência Mineira e Tiradentes não buscavam apenas a independência, mas também, a proclamação de uma república, seguida de uma série de reformas políticas, econômicas e sociais;
• Em 1824, diversos estados do Nordeste criaram um movimento independentista, dentre elas a Confederação do Equador, igualmente republicana;
• Em 1839, na esteira da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a República Rio-grandense e a República Juliana, respectivamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Embora se argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o regime monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve manifestações populares de apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao novo regime.

Em relação à ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um documento que teve grande repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que fora testemunha ocular da proclamação da República, no Diário Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia:

"Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!"

Na reunião na casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria um referendo popular, para que o povo brasileiro aprovasse ou não, por meio do voto, a república. Porém esse plebiscito só ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo 2º do Ato das disposições constitucionais transitórias da Constituição de 1988, no dia 21 de abril de 1993. Nesse plebiscito a opção "república" obteve 86% dos votos válidos.

A própria forma pela qual em geral nos referimos aos eventos ocorridos em 15 de novembro de 1889 - a "Proclamação da República" - já incorpora algumas idéias importantes. Em primeiro lugar, a de que ocorreu uma "proclamação". Mas o que é "proclamar"? É apenas anunciar publicamente algo - no caso, que a Monarquia fora substituída pela República. Logo surgem outras idéias, como a de que a República no Brasil teria sido algo inevitável, uma etapa necessária da "evolução" da sociedade brasileira. Mais ainda, podemos imaginar que o fácil sucesso do golpe de Estado - que, tecnicamente, foi o que aconteceu no 15 de Novembro- seria resultado de um consenso nacional, e que os militares, os principais protagonistas do movimento, teriam atuado de forma unida e coesa.

Não é essa a visão que hoje podemos ter desses fatos. Não havia uma maioria republicana no país e nem mesmo unidade entre os militares. De fato, apenas uma pequena fração do Exército, e com características muito específicas, esteve envolvida na conspiração republicana.

O golpe de 1889 foi um momento-chave no surgimento dos militares como protagonistas no cenário político brasileiro. A República então "proclamada" sempre esteve, em alguma medida, marcada por esse sinal de nascença (ou, para muitos, pecado original). Havia muitos republicanos civis no final do Império, mas eles estiveram praticamente ausentes da conspiração. O golpe republicano foi sem dúvida militar, em sua organização e execução. No entanto, ele foi fruto da ação de apenas alguns militares. Quase não houve participação da Marinha, nem de indivíduos situados na base da hierarquia militar (as "praças", como os soldados ou sargentos). Mas isso não significa que o movimento foi promovido por oficiais situados no topo da hierarquia. Dos generais, apenas Deodoro da Fonseca esteve presente. Os oficiais superiores podiam ser contados nos dedos, e o que mais se destacou entre eles não exercia posição de comando de tropa: trata-se do tenente-coronel Benjamin Constant, professor de matemática na Escola Militar.

Quem foram, então, os militares que conspiraram pela República e se dirigiram ao Campo de Santana na manhã do dia 15 de novembro de 1889 dispostos a derrubar o Império? Basicamente, um conjunto de oficiais de patentes inferiores do Exército (alferes-alunos, tenentes e capitães) que possuíam educação superior ou "científica" obtida durante o curso da Escola Militar, então localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Na linguagem da época, a "mocidade militar".

Essa versão dos acontecimentos difere em alguns pontos importantes das opiniões disponíveis nos livros de história. Em alguns desses relatos, Deodoro aparece unindo simbolicamente todo o Exército; em outros, representando apenas os oficiais mais ligados à tropa, que eram chamados de "tarimbeiros", geralmente não tinham estudos superiores e constituíam a maior parte da oficialidade. Minha visão de Deodoro é a de um chefe militar levado ao confronto com o governo motivado pelo que imaginava ser a defesa da "honra" do Exército e por algumas particularidades da política do Rio Grande do Sul, que havia chefiado pouco tempo antes. Foi somente nas vésperas do golpe que se reuniu em torno dele um grupo muito pequeno de oficiais de patentes médias.

Todas as fontes disponíveis sobre o 15 de Novembro destacam a liderança que Benjamin Constant exercia sobre a "mocidade militar" formada na Escola Militar da Praia Vermelha, por ter sido durante muitos anos seu professor de matemática. Ele seria o "mestre", "líder", "catequizador" ou "apóstolo" desses militares. Para vários autores, principalmente os vinculados à tradição positivista, Benjamin Constant e seus jovens liderados teriam sido o principal elemento na conspiração. Minha perspectiva, no entanto, focaliza não o "líder" ou "mestre", mas seus pretensos "liderados" ou "discípulos". Quando examinamos com atenção as fontes documentais disponíveis, ao invés de assistirmos a Benjamin Constant catequizando os jovens da Escola Militar, encontramos justamente a "mocidade militar" seduzido-o e convertendo-o ao ideal republicano. Atribuo à "mocidade militar", portanto, o papel de principal protagonista da conspiração republicana no interior do Exército.

Formados pela Escola Militar da Praia Vermelha, esses jovens contavam com dois poderosos elementos de coesão social: a mentalidade "cientificista" predominante na cultura escolar e a valorização do mérito pessoal. Esses elementos culturais informaram a ação política que levou ao fim da monarquia e à instauração de um regime republicano no Brasil.

A supervalorização da ciência, ou "cientificismo", expressava-se na própria maneira pela qual os alunos se referiam informalmente à Escola Militar - "Tabernáculo da Ciência" -, deixando desde logo evidente a alta estima que tinham pelo estudo científico. É importante observar que a Escola Militar foi durante muito tempo a única escola de engenharia do Império. Como a Escola Militar não era passagem obrigatória para a ascensão na carreira militar, havia um fosso entre os oficiais nela formados e o restante (a maioria) da oficialidade do Exército, sem estudos superiores, mais ligado à vida na caserna, com a tropa.

Por outro lado, durante todo o Império, foi clara a hegemonia dos bacharéis em direito no interior da elite. Enquanto o status social dos militares era baixo, os jovens bacharéis tinham caminho aberto para cargos e funções públicas em todos os quadros administrativos e políticos do país. Os jovens "científicos" do Exército tinham que lutar para situar-se melhor dentro de uma sociedade dominada pelos bacharéis.

O republicanismo da "mocidade militar" era oriundo da valorização simbólica do mérito individual somada à cultura cientificista hegemônica entre os alunos e jovens oficiais. A "mocidade militar" era francamente republicana desde muito antes da "Questão Militar" de 1886-1887, geralmente considerada um marco da radicalização política dos militares ao final do Império. A partir de 1878, alunos da Escola Militar criaram clubes secretos republicanos e, em diversas ocasiões, cantaram ou tentaram cantar, desafiando seus superiores, a Marseillaise, o hino revolucionário francês. É notável o radicalismo de sua atuação e o fato de que, nos escritos e nas memórias dos jovens "científicos", não apareçam referências a professores ou políticos convertendo-os ao republicanismo. As referências a esse respeito levam sempre a livros por eles adquiridos e devorados e, principalmente, à influência de outros jovens "científicos" agrupados em associações e clubes de alunos.

Entre a "mocidade militar" não havia clareza a respeito de como a República vindoura seria organizada. Parece ter sido suficiente saber que se tratava da única forma "científica" de governo, aquela onde reinaria o mérito, ordenador de toda a vida social. A falta de definição a respeito de como seria a República facilitou, por um lado, a unidade de pensamento e ação da "mocidade militar" antes do golpe de 1889; por outro lado, ajudou a apressar sua fragmentação tão logo a República foi instituída.

Foi com esse espírito "científico" e republicano que a "mocidade militar" participou ativamente da conspiração que levou ao fim da monarquia no Brasil. Nesse processo, esses jovens conseguiram atrair alguns oficiais não politizados - como Benjamin Constant - e outros de perfil mais troupier, como Deodoro. Apesar de poucos, esses oficiais mais graduados foram importantes para passar à Nação e ao Exército a idéia de que representavam a "classe militar".

Fontes:
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)-FGV, em 12/11/2010, Wikipédia, em 12/11/2010.

Um balanço da Feira (56ª Feira do Livro de Porto Alegre)




Esta Feira que termina hoje me faz chegar a duas impressões absolutamente distintas.

A primeira é que para sujeitos como eu e outras pessoas com quem conversei – colegas jornalistas ou escritores, gente que frequentam livrarias o ano todo e costuma comprar livros a intervalos mais ou menos frequentes ao longo dos 12 meses do ano —, a Feira não anda tão atraente assim há alguns anos: os amplos e atraentes descontos que sempre fizeram a graça e a chama do evento ou andam sumidos ou, quando praticados, não chegam a constituir um atrativo de fato, principalmente quando praticados, em plena Feira, pelas lojas de grandes redes do setor. E o livro muitas vezes já é caro na origem, e o desconto amortiza o impacto, mas não o dilui (o que vale para a literatura de ficção que eu consumo ou os livros técnicos que genteque eu conheço compra). Venho notando um gradativo declínio no número de livros que eu costumava comprar de uma Feira para outra – o que é engraçado, porque chego à conclusão de que adquiria mais livros nos balaios da Feira quando ganhava uma merreca em estágios intermediados pelo CIEE em meados dos anos 1990 do que hoje, quando sou um profissional muito melhor remunerado em comparação com aquela época. Claro, isso é uma questão minha e não pode ser generalizada para a Feira, mas acho que é uma sensação que se conecta com coisas que as demais pessoas citadas ali na primeira frase deste parágrafo também comentam (não esqueçamos que, se fosse uma impressão só minha, talvez não tivesse passado pela feira uma caravana como a dos “saldosistas”).

Outro ponto que reforça esta impressão é que um certo caráter paroquial que a Feira tinha até ali os primeiros anos da década de 2000 se foi, e eu particularmente não estou lamentando por isso, apenas constatando. Não sei se isso é melhor ou pior – provavelmente para quem via a praça como um ponto de encontro de uma certa comunidade cultural seja uma decepção, mas a expansão inevitável de qualquer evento que cresceu ininterruptamente ao longo de meio século levaria inevitavelmente a este ponto — e além do mais, as possibilidades de contato frequente não são necessariamente escassas nesta era digital (dois dos meus melhores amigos, quase irmãos, hoje vivem um em Florianópolis e outro em Curitiba, e nem por isso deixei de manter contato quase diário, no mínimo semanal, via e-mails, gtalques e emessenes). Logo, a praça como pretexto de encontro ainda está lá para quem quiser usá-la, embora este não venha sendo mais o centro da questão – e provavelmente será cada vez menos. Acho que a Feira vai se tornar cada vez mais um evento centrado em palestras e mesas sobre temas relevantes do mercado literário e da literatura (o que não é ruim, também, é só outro jeito de fazer a Feira). Ainda que o episódio da poeta Telma Scherer, que começou uma performance de poesia na praça e a terminou em um posto da Brigada Militar, mostre que ainda se tem de avançar muito se se quer criar um espaço de arte e diálogo aberto, e não apenas sujeito à programação oficial.

Por outro lado, o que me leva à segunda impressão, não se pode ignorar os números (talvez apenas gênios do porte de um Nelson Rodrigues possam declarar impunemente que a objetividade é idiota e que a estatística é burra). E o fato é que esta feira, mesmo convivendo com um General Osório ensacado, canteiros esburacados e um espelho d’água quase transformado em criadouro de mosquitos registrou números muito melhores do que o ano passado e provavelmente os ano anterior também (talvez até mesmo o antepenúltimo ano, mas isso é melhor esperar os números oficiais da Feira toda para dizer). E muitas das pessoas com quem conversei na Feira, o passante eventual, o sujeito que espera justamente a Feira para ver livros (e às vezes comprar só um), o frequentador que gosta da Praça como um programa social no Centro já tão abandonado, para esses a Feira é um sucesso, e a Feira deles é tão válida quanto a minha. O ponto de encontro deixou de ser da tal comunidade intelectual/artística, mas é uma oportunidade de encontro das pessoas com os livros no meio da praça, não no ambiente por vezes por demais protegido de uma livraria. A Feira no cais é um passeio no qual crianças associam livros e histórias à beleza natural daquela paisagem oculta durante o resto do ano, e quem sabe o que isso poderá fazer no futuro na cabeça desses potenciais leitores? Talvez transformar livros em uma memória associada às melhores experiências de infância, criando assim um afeto pelos livros que a escola na maioria das vezes não consegue. E assim, não se pode dizer que a Feira não esteja mais executando o projeto que motivou sua própria criança, 55 anos atrás: levar os livros ao povo e ao espaço público, porque isso é sim feito. A Feira é notícia, e tema para discussão mesmo quando as avaliações são mais pessimistas do que otimistas, como foi o tom de muitos dos comentários sobre a Feira feitos no ano passado. São duas semanas em que o livro volta à arena pública. Quem pode dizer que isso é ruim? Márcio Renato dos Santos, escritor e jornalista da Gazeta do Povo do Paraná e do jornal Rascunho, no debate sobre Literatura e Novas Mídias ocorrido na tarde de sábado no Centro Cultural Erico Verissimo, chegou a dizer que sempre se fascinava ao vir a Porto Alegre e encontrar aquela Feira tão tradicional e funcionando ano após ano, algo que, ele lamentava, Curitiba ainda não conseguiu fazer:

– Vocês que vivem aqui, talvez não percebam a real dimensão do que é ter uma feira como esta. Eu gostaria que a organização daqui fosse ao Paraná para ministrar cursos lá sobre como manter uma iniciativa desta por mais do que três anos. – foi o comentário

São essas duas feiras que convivem na Praça. E por isso, não se pode dizer agora que uma prevaleça sobre a outra. Até porque, pensando bem, não são duas feiras, esqueçam a imagem inapropriada. O que temos são dois modos de enxergar a mesma feira. Que cada um escolha o seu ou faça como eu: tente buscar o equilíbrio entre essas duas visões. E entre muitas outras.

Fonte: Blog Mundo Livro - Carlos André Moreira - Zero Hora - Porto Alegre - RS

14 de nov. de 2010

A elite chama de populismo a democratização das decisões

A elite chama de populismo a democratização das decisões
Por Saul Leblon
À frente da Secretaria-Geral da Presidência da República desde 2003, Luiz Dulci conta como se deu a participação da sociedade brasileira nas decisões e ações do governo Lula. O ministro fala sobre os processos já ocorridos e instrumentos implantados para esse diálogo.

(*)Entrevista postada no site participacaosocial.sg@sg.planalto.gov.br ;
concedida a Juarez Guimarães - cientista político, professor da UFMG e membro do Conselho de Redação de Teoria e Debate para a Revista Teoria e Debate

A liderança pública do presidente Lula é sempre denunciada pelos liberais como de tipo populista, ou de tipo carismático personalista. Essa caracterização contrasta com o ethos participativo estimulado pelo governo. Quais são, depois de oito anos, as principais conquistas democráticas nessa área?


Luiz Dulci - Lula não tem nada de populista. Ele sempre defendeu uma sociedade civil forte e independente, o contrário do que faz o populismo. Sempre apoiou os movimentos populares autônomos e críticos. Ajudou a construir muitos deles, nos últimos 35 anos. Aliás, seu carisma, que é essencialmente vinculado a um projeto coletivo de emancipação social, e não personalista, afirmou-se justamente nesse trabalho árduo, cotidiano de conscientização e organização das classes populares. E o governo Lula empenhou-se, desde o início, em construir uma nova relação do Estado com a sociedade. Uma relação de diálogo permanente e de respeito pela autonomia dos movimentos. E, principalmente, de democratização das decisões. O próprio Lula tem dito que a democracia participativa é uma das maiores conquistas, uma das marcas do seu governo, a ser preservada e ampliada. De fato, houve uma mudança completa no modo de elaborar as políticas públicas. Mudou também, estruturalmente, a forma de implementá-las e avaliá-las. Antes, as políticas eram decididas exclusivamente pelos técnicos e dirigentes dos ministérios. Só os gestores públicos participavam. A partir de 2003, a população invadiu o processo (e foi convidada a invadilo). As políticas passaram a ser formuladas junto com os movimentos sociais nas conferências, conselhos e mesas de diálogo. O maior exemplo disso são as conferências de políticas públicas. Já foram realizadas 73 conferências nacionais, sobre os mais diversos temas. Desenvolvimento, geração de emprego e renda, inclusão social, saúde, educação, meio ambiente, direitos das mulheres, igualdade racial, reforma agrária, juventude, direitos humanos, ciência e tecnologia, comunicação, diversidade sexual, democratização da cultura, reforma urbana, segurança pública, entre muitos outros. Até os brasileiros que vivem no exterior já puderam participar de duas conferências, com delegados de dezenas de países. Elas têm, como se sabe, um formato congressual. Começam nos municípios, depois há os encontros estaduais, que finalmente convergem para o evento-síntese em Brasília. Mais de 5 milhões de pessoas participaram dessas conferências, nas suas várias etapas. Também os conselhos de políticas públicas, que hoje existem em todas as áreas, com efetiva presença da sociedade civil, cumprem papel fundamental. Diversos deles foram inteiramente reformulados e democratizados; outros, que haviam sido extintos no período neoliberal, foram recriados. É o caso do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). E outros foram implantados por Lula, como os conselhos de Desenvolvimento Econômico e Social, da Juventude, das Cidades, de Participação Social no Mercosul etc. Sem falar nas mesas permanentes de diálogo: a mesa com as centrais sindicais sobre a valorização do salário mínimo; a mesa tripartite canavieiros usineiros governo; e as mesas da agricultura familiar, das mulheres camponesas, do funcionalismo, dos atingidos por barragens, da moradia popular... Todos os grandes projetos do governo Lula, inclusive o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, foram previamente debatidos com a sociedade civil.



As conferências nacionais temáticas não são em geral deliberativas, mas participam do sistema decisório do governo, desde a construção de agenda, de prioridades, até a viabilização de compromissos assumidos com os delegados. Quais são as funções das conferências nacionais na experiência de construção de políticas públicas do governo Lula?


Luiz Dulci
--As conferências são deliberativas, sim, pois discutem e aprovam propostas a serem encaminhadas ao Executivo e ao Legislativo. O que elas não são é impositivas, pois isso seria descabido no regime democrático. Trata-se, justamente, de superar essa falsa dicotomia entre representação e participação. Na democracia contemporânea, as instituições representativas são imprescindíveis, ainda que, no caso brasileiro, careçam de reformas profundas. Mas elas não excluem o que Boaventura Santos chamou de uma escuta forte à sociedade. O governo não pode e não deve transferir suas responsabilidades às conferências. Ele as compartilha. Delegados dos ministérios participam ativamente dos grupos de trabalho e das plenárias. Opinam, divergem, concordam, interagem o tempo todo com os cidadãos e os militantes sociais. O próprio presidente Lula compareceu a dezenas de conferências. Isso significa que o governo é parte integrante do processo e compromete-se a levar em conta seus resultados. As deliberações das conferências incidiram fortemente nas políticas públicas implementadas pelo nosso governo. Muitas se tornaram projetos de lei, já aprovados, ou estão em tramitação no Congresso Nacional. Outras, por meio de decretos ou portarias, foram imediatamente postas em prática. E, mesmo quando não era possível concretizá-las de imediato, incorporaram-se à agenda de debates do governo e do país.



Em que medida a discussão e a definição do orçamento nacional podem ser democratizadas? O âmbito nacional impõe obstáculo diverso ao da experiência consagrada do orçamento participativo municipal?

Luiz Dulci
- Em princípio, acho que a democracia participativa pode ser adotada com proveito em todas as esferas de governo. A escuta forte que mencionei será sempre valiosa, por mais complexas e especializadas que sejam algumas políticas. Nas 73 conferências, sem exceção, foram debatidas questões orçamentárias e aprovadas demandas de inversão de prioridades na alocação de recursos. Os conselhos também discutem intensamente temas orçamentários e monitoram de perto a execução dos investimentos públicos. E é claro que as reivindicações negociadas nas mesas permanentes têm impacto direto no orçamento, em benefício dos setores populares. O governo Lula sempre acolheu essas preocupações. No entanto, penso que o chamado ciclo orçamentário isto é, o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento propriamente dito (Loas) também pode ser, de alguma maneira, objeto de interlocução específica com a sociedade civil. Já acumulamos uma boa experiência nesse sentido. Mas é preciso encontrar a forma adequada
para fazê-lo. Não acredito, sinceramente, na transposição mecânica do orçamento participativo municipal para o âmbito federal. O OP local tem um caráter de participação direta, inclusive do cidadão individual, que é impossível manter num universo potencial de quase 200 milhões de pessoas. Além disso, a escala territorial é outra, os condicionamentos institucionais são completamente diferentes, o próprio Congresso Nacional tem atribuições na matéria que as Câmaras de Vereadores não possuem. Mas nessa área também é importante a participação social. Será preciso bolar um formato ao mesmo tempo legítimo e eficaz. Talvez ela possa ser feita por meio de entidades populares representativas. A Secretaria-Geral da Presidência chegou a propor aos movimentos sociais um conselho de acompanhamento do ciclo orçamentário. No próximo governo, quem vier a coordenar o diálogo com a sociedade civil poderia, quem sabe, retomar essa ideia.



Em que grau se pode falar na projeção de um sistema federal de participação? Como esse sistema se relacionaria com as funções e a representação do Congresso Nacional?

Luiz Dulci - Os canais de participação criados e/ou recriados pelo governo Lula conferências, conselhos, mesas de diálogo, ouvidorias etc. já constituem, na prática, um embrião desse sistema. O desafio agora é consolidá-lo, garantindo maior integração entre seus vários instrumentos (das conferências com os conselhos, por exemplo). Além disso, será importante ampliar a qualificação específica para os processos participativos, tanto no governo quanto nos movimentos sociais. Foi o que procuramos fazer com o Programa de Formação de Conselheiros, promovido pela Secretaria-Geral em parceria com a UFMG. Além de quadros do governo, 4.372 lideranças e militantes sociais frequentaram os cursos, gerando uma boa massa crítica. Entre as monografias aprovadas, há algumas que abrem novas perspectivas teóricas e práticas para a democracia participativa. Criar no governo federal a figura do gestor de participação social seria um grande avanço. E é claro que será necessário institucionalizar, mantendo sua flexibilidade política e organizativa, todos os canais que ainda não estão garantidos em lei. Quanto ao Congresso Nacional, como já disse, acho que participação e representação podem e devem ser complementares. Não se trata de substituir uma pela outra, mas de criar entre elas uma saudável dialética política, na qual as duas têm muito a ganhar. Aliás, a Constituição Federal prevê a participação social tanto no Executivo como no Legislativo, com as audiências públicas e os projetos de lei de iniciativa popular.



Na história brasileira, consagrou-se, com a herança do período varguista, o formato corporativo de representação de interesses. Em que medida o ethos participativo estimulado pelo governo Lula se relaciona com essa tradição e em que sentido procura ultrapassar seus limites?

Luiz Dulci
-Acho que é preciso fazer uma distinção. Nem tudo o que é setorial é corporativo . Há interesses setoriais que não são puramente particulares nem exclusivistas, ou seja, eles não se chocam com os interesses gerais da população. Pelo contrário: servem a eles. É o caso da luta da área da saúde em defesa do SUS, por exemplo, ou da mobilização dos trabalhadores pelo salário mínimo, que é um poderoso fator de desenvolvimento. Mas é importante que os movimentos sociais não sejam setorialistas, que eles dêem conta de inserir suas causas específicas num projeto global de sociedade, capaz de universalizar direitos. Acho que isso está ocorrendo. A luta da agricultura familiar tornou-se também a luta pela segurança alimentar. As centrais sindicais, além dos temas trabalhistas, discutem com o governo aspectos estruturais da política econômica, como a redução dos juros, a ampliação do crédito, os incentivos ao mercado interno, a descentralização industrial. Na verdade, negociam cada vez mais uma estratégia nacional de desenvolvimento. Na crise financeira internacional, isso ficou muito evidente. De imediato, governo e centrais pactuaram um conjunto de medidas para evitar a recessão, sustentar a atividade produtiva e garantir o nível de emprego.



Como a experiência de participação do governo Lula se vincula às tradições dos movimentos sociais? Como fugir aos dilemas da cooptação e do conflito?


Luiz Dulci - Muitos dos movimentos sociais brasileiros se constituíram na luta contra a ditadura. Com uma cultura, por isso mesmo, fortemente defensiva, autoprotetora, de enorme desconfiança em relação ao Estado. E não podia ser diferente, pois naquela época reagíamos ao Estado-repressor, ao Estado-tecnocrata, ao Estado-cooptador (não raro, essas dimensões se mesclavam). Essa desconfiança se acentuou durante o período neoliberal, com a privatização avassaladora e o empenho sistemático para desconstituir a sociedade civil, desagregá-la, pulverizá-la. No governo Lula, o maior desafio foi inverter essa equação. Fazer com que as classes populares, e suas organizações, assumissem uma atitude criativa perante o Estado. Fazer com que pensassem o Estado como potencialmente a serviço das maiorias sociais. E se dispusessem a interferir nas decisões do Estado, disputando democraticamente as suas escolhas. O que implicava, necessariamente, aproximar-se dele, apropriar-se de um saber sobre as políticas públicas, sem abrir mão da independência nem do direito à crítica. Exercendo a autonomia numa relação politizada com o Estado e não por virar as costas a ele ou por manter-se longe dele, numa atitude de negação absoluta, que acaba por ser paralisante. Estou convencido de que a maioria dos movimentos sociais soube renovar-se culturalmente e assumir um novo protagonismo, sem o qual não haveria sustentação popular para as reformas sociais promovidas pelo governo Lula. É preciso dizer que, nesses oito anos, a imprensa conservadora fez campanha permanente para desqualificar os movimentos sociais e sua relação com o governo. Usou para isso três armas poderosas: a invisibilidade, a desmoralização e a aberta criminalização. Ela simplesmente escondeu, cancelou do noticiário, as principais mobilizações populares do período e as conquistas obtidas, no afã de carimbar as entidades civis como omissas, cooptadas. A julgar pelas TVs, rádios, revistas e jornais, com raríssimas exceções, é como se não tivessem existido as três grandes marchas da classe trabalhadora pelo emprego e pelo salário, cada uma delas levando a Brasília 40 mil, 50 mil participantes; ou os Gritos da Terra, realizados anualmente em todo o país; ou as enormes caravanas da agricultura familiar e da reforma agrária; sem falar nas esplêndidas Marchas das Margaridas, que nunca contaram com menos de 30 mil mulheres do campo; ou as diversas e massivas jornadas de luta estudantil em defesa da escola pública; e os dias nacionais da consciência negra e dos direitos das mulheres, entre tantos exemplos que poderíamos citar, nos mais variados setores da vida brasileira. Toda essa vitalidade democrática foi, na verdade, deliberadamente omitida para não desmentir a tese preconcebida da desmobilização completa dos movimentos e de sua suposta estatização . Em alguns casos, tentou-se criminalizá-los, promovendo CPIs (das ONGs e do MST), quebra de sigilos bancários de militantes, processos judiciais etc. Caso contrário, essa mídia teria que admitir que, se não há mais manifestações contra a Alca, é porque derrotamos a proposta da Alca, e hoje avança a integração soberana dos povos do continente; se não há mais atos públicos contra as privatizações, é porque não há mais privatizações, e sepultou-se o dogma destrutivo do Estado mínimo ; se não há protestos contra o desemprego e o arrocho salarial, é porque o país criou, durante o governo Lula, 14 milhões de novos postos de trabalho e a classe trabalhadora teve expressivos ganhos reais, com forte elevação da massa salarial. O que eles não percebem é que, hoje, os movimentos sociais não estão mais na fase de resistência. Junto com o país, passaram à ofensiva. Já não lutam para impedir a supressão de direitos, como acontecia nos governos de Fernando Henrique, e sim para ampliá-los e universalizá-los. Mobilizam-se, a partir de sua autonomia, para aproveitar os espaços de democracia participativa e alargá-los ainda mais. Querem intensificar o atual ciclo de crescimento econômico, distribuindo cada vez melhor os seus frutos. Lutam para que os recursos do pré-sal beneficiem o conjunto da população e sejam de fato destinados à igualdade social e à revolução educacional, cultural e científica a que o país almeja.

Fonte: www.cartamaior.com.br

11 de nov. de 2010

V Coletânea de Contos, Crônicas e Poesias - Casa do Poeta de Canoas


PROJETO DA CASA DO POETA PARA O PIC DE CANOAS

A Casa do Poeta de Canoas participará do PIC (Programa de Incentivo a Cultura) de Canoas. A participação se dará com a inscrição de um projeto para editar a sua V Coletânea de Contos, Crônicas e Poesias. As inscrições para o PIC abriram em 26/10/2010 e encerram-se em 24/11/2010. Os interessados em participar desta Coletânea devem mandar seus trabalhos até a data de 15/11/2010, impreterivelmente, para que seja possível elaborar o projeto em tempo hábil.

Veja aqui como participar

3 de nov. de 2010

A vitória de Dilma Rousseff em dez pontos



Ganhou a candidata partidária da consolidação da Unasul e da expansão do Mercosul. Na campanha, Serra chegou a dizer que o Mercosul era “uma farsa”. Na entrevista que concedeu a Marco Aurélio Garcia e Emir Sader para o livro “Brasil, entre o passado e o futuro”, Dilma Rousseff disse que “só se é líder regional responsável, verdadeiramente, sem belicismos e com muita solidariedade e espírito associativo”. Ao falar dos oito anos de Lula, assinalou que “conseguimos o direito de reconstruir o Estado nacional na medida em que o Brasil conquistou autonomia na relação com a política internacional”. O artigo é de Martín Granovsky, do Página 12.Martín Granovsky – Página 12


1. Dilma Rousseff ganhou as eleições por uma diferença ampla, de 56 a 44 por cento dos votos. Obteve mais de 55 milhões de votos, 12 milhões a mais que José Serra. Em nível mundial, considerando os países que são governados por eleições livres e o número de votantes, é a maior vitória de uma coalizão de partidos dirigida por uma força de esquerda. O Brasil já elegeu um operário pela primeira vez como presidente. Agora, trata de eleger a primeira mulher presidenta de sua história.

2. Aos 65 anos recém cumpridos (em 27 de outubro, mesmo dia em que morreu Néstor Kirchner), Lula deixa a presidência como o líder mais popular da história do Brasil e uma figura de primeiro nível na América do Sul e no mundo. Já prometeu que não ofuscará a presidenta e que se dedicará à região (América do Sul) e às relações com a África. Mas quando quiser, Dilma terá à disposição um sábio confiável e um negociador com 35 anos de experiência.

3. A vitória de Dilma demonstra o êxito da aposta de Lula, quando pediu ao Partido dos Trabalhadores, no quarto congresso do partido realizado em fevereiro deste ano, que ela fosse consagrada candidata ainda que não tivesse forte inserção na militância petista e jamais tivesse disputado uma eleição. É óbvio que a popularidade de Lula, superior a 80%, derramou uma simpatia massiva sobre Dilma. Mas a popularidade de Michelle Bachelet no Chile era similar e o candidato da Concertação, Eduardo Frei, foi derrotado pelo direitista Sebastián Piñera. Lula e o PT não se acomodaram com essa popularidade. Lançaram a militância às ruas, não deixaram nada jogado ao sabor dos centos e ampliaram a base de sustentação partidária, política e social.

4. Quando Dilma assumir, em 1° de janeiro de 2011, uma coalizão governará com maioria no Senado e na Câmara de Deputados. Considerando o tabuleiro por forças políticas, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), será o primeiro com 20 senadores, seguido pelo PT com 14, seis a mais do que antes. A direita tradicional do Partido Democrata (DEM), caiu de 13 para 6 senadores e o Partido Socialdemocrata Brasileiro (PSDB), de Serra, caiu de 14 para 11. Na Câmara de Deputados, o PT elegeu 88 representantes e o PMDB, 79. Em governos estaduais, sem contar os aliados, o PT controlará cinco Estados: Distrito Federal (Brasília), Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe e Acre.

5. O PT manteve as alianças e as ampliou. Neste cenário é um elemento chave que o vice-presidente seja Michel Temer, do PMDB, de centro. O PMDB, um conglomerado heterogêneo, tem amplitude territorial e governadores próprios. Lula começou tecendo com o PMDB, a sua direita, uma aliança parlamentar e de governabilidade em nível federal. Terminou construindo uma aliança de governo. O apoio ao PT foi muito forte entre os trabalhadores, o subproletariado do Nordeste e a nova classe média (convertida a essa condição durante o governo Lula) e talvez – elemento que ainda requer uma análise mais fina – entre setores da classe média tradicional. O Brasil tem hoje apenas 6,2% de desempregados.

6. Em relação aos 20 milhões de votos obtidos, no primeiro turno, por Marina Silva e seu Partido Verde, é arriscado dizer que 10 milhões tenham ido para Serra e outro tanto para Dilma. Contudo, ficou claro que as especulações sobre a possibilidade desses 20 milhões de votos migrarem de modo maciço para um dos candidatos eram disparatadas.

7. Serra perdeu o segundo turno após uma campanha ainda mais direitista que a de Fernando Collor de Mello em 1989, quando o candidato da Rede Globo derrotou Lula. O tom incluiu apelos ao Demônio inspiradas na organização Tradição, Família e Propriedade e repetidas nas dioceses que o Papa João Paulo II inundou de bispos ultraconservadores. A luciferização de Dilma, apresentada como uma maníaca do aborto, mergulhou o Brasil em seu lado mais obscuro. Mas o obscurantismo foi derrotado. Do mesmo modo que na Argentina, com a Lei do Matrimônio Igualitário (permite a união civil homossexual), os brasileiros conservaram suas crenças mas votaram de maneira secular.

8. Ganhou a candidata partidária da consolidação da Unasul e da expansão do Mercosul. Na campanha, Serra chegou a dizer que o Mercosul era “uma farsa”. Na entrevista que concedeu a Marco Aurélio Garcia e Emir Sader para o livro “Brasil, entre o passado e o futuro”, que acaba de ser publicado na Argentina, Dilma disse que “só se é líder regional responsável, verdadeiramente, sem belicismos e com muita solidariedade e espírito associativo”. Ao falar dos oito anos de Lula, assinalou que “conseguimos o direito de reconstruir o Estado nacional na medida em que o Brasil conquistou autonomia na relação com a política internacional”. Também definiu que para garantir a própria industrialização foi chave fechar o caminho da integração com os Estados Unidos via uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), posição compartilhada com a Argentina e a Venezuela na Cúpula de Mar del Plata de 2005.

9. Dilma anunciou que continuará com o controle da inflação e a estabilidade macroeconômica, mas que não cortará gastos sociais nem investimentos na infraestrutura. Também reafirmou que não desperdiçará os recursos das novas reservas de gás e petróleo descobertas pela Petrobras, o Pré-Sal. Enviará ao Congresso um projeto que definirá o marco social para a exploração desses recursos.

10. Os grandes veículos da imprensa escrita, como Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo e Veja, não conseguiram fazer com que sua agressividade derrotasse Dilma e tampouco conseguiram impor uma agenda própria de fantasmas, como o do aborto, o dos suposto autoritarismo de Lula ou o da eternização antidemocrática do PT. Na noite de domingo, em seu discurso da vitória, Dilma disse o que pensa o PT e procurou demonstrar uma superioridade moral: “As críticas do jornalismo livre são essenciais para assinalar os erros do governo”, disse. “Prefiro o ruído da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”, disse a candidata que foi estigmatizada por seu passado guerrilheiro quando, na verdade, essa insurgência foi o primeiro ensaio de oposição à ditadura que tomou o poder em 1964.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Página 12 (Argentina)

1 de nov. de 2010

Leia a íntegra do pronunciamento da presidenta eleita Dilma Rousseff

01/11/2010


Notícias / Eleições 2010 00:0201/11/2010

Leia a íntegra do pronunciamento da presidente eleita Dilma Rousseff

Leia abaixo a Íntegra do pronunciamento da presidenta eleita Dilma Rousseff:

Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui. Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida. Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!

Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:

Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões. O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família. É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro. Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.

Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.

No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.

Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.

Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.

Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos. Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.

Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público. Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo. Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.

As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.

Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.

Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.

Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas. Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde. Me comprometi também com a melhoria da segurança pública. Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos. Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.

A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade. É aquela que convive com o meio ambiente sem agredí-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa. Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.

Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.

Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho. Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.

Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado. Saberei consolidar e avançar sua obra.

Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo. Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união. União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.

Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.

Muito obrigada.

Fonte: www.pt.org.br

29 de out. de 2010

Ibope: Dilma tem 57% dos votos válidos e abre 14 pontos de vantagem sobre Serra

Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (28) aponta Dilma Rousseff (PT) com 57% dos votos válidos e José Serra (PSDB) com 43% na disputa em segundo turno pela Presidência da República.

Como a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, Dilma pode ter entre 55% e 59%, e Serra, entre 41% e 45%. O critério de votos válidos exclui as intenções de voto em branco e nulo e os indecisos.

Na pesquisa anterior do Ibope, divulgada no último dia 20, Dilma aparecia com 56% dos votos válidos e Serra com 44%.

O Ibope entrevistou 3.010 eleitores, de 26 a 28 de outubro. A pesquisa foi encomendada ao instituto pela TV Globo e pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número de protocolo 37596/2010.

Pelo critério de votos totais (que incluem no cálculo brancos, nulos e indecisos), Dilma Rousseff soma 52% das intenções de voto, e José Serra, 39%. As intenções de voto em branco ou nulo acumulam 5%, segundo o Ibope. Os eleitores indecisos são 4%.

Nos votos totais da pesquisa anterior do Ibope, do último dia 20, Dilma tinha 51%, e Serra, 40%. Brancos e nulos eram 5%, e indecisos, 4%.

As informações são do G1

25 de out. de 2010


Livros e Ideias


Quem tem medo de literatura?


'As palavras insistem em pular pelo meu corpo. Ficam impregnadas nos ouvidos, deixam cheiro forte nas narinas, ardem dentro das artérias'






Primeira página de Ulisses

Pode até soar estranho eu, uma estudante de Estudos Literários, admitindo isso aqui: morro de medo de literatura. Sim, literatura assusta. E me assusta um pouco além do seu potencial-assustador porque eu definitivamente não faço parte daquelas pessoas que terminam de ler, fecham seus devidos livros e conseguem uma boa noite de sono. Muito pelo contrário, livro pra mim é cafeína na veia, quando levado pra cama, adeus, querido sono. As palavras insistem em pular pelo meu corpo. Ficam impregnadas nos ouvidos, deixam cheiro forte nas narinas, ardem dentro das artérias.

O fato é que literatura dá um medo gigante. Digo isso por um motivo. Estou lendo Ulisses, de James Joyce. Um dos livros mais conhecidos a aclamados da literatura moderna, mas que pouca gente leu. Segundo meu professor de Teoria Literária, Henrique Ávila, um senhor simpático que já deve caminhar pela casa dos 80, as pessoas mais falam de Ulisses do que realmente o leem. E é, acho que isso é verdade, porque cá estou, falando de um livro que me encontro na página 16. Dezesseis.

Como falar de um livro do qual se leu até a página 16? Obviamente isso é tarefa impossível. A questão é que não tenho pretensões de falar do enredo, estruturas narrativas, diegese, discurso e tudo mais. Quero falar de uma coisa simples: a literatura forçada.

Está pra existir uma coisa nesse mundo mais ridícula do que a literatura que é empurrada goela a baixo. Não gosto. Nunca gostei. Quando estava no colegial, invertia a ordem dos livros lidos só para não ler quando o professor pedia. Então quando ele pedia Eça de Queirós, eu lia Machado de Assis. E quando ele pedia Machado de Assis... bem, eu não lia Eça de Queirós, porque eu não gosto, nem nunca gostei. Mas essa é a lógica.

Voltando ao Ulisses... Preciso lê-lo. E o verbo precisar se refere a duas coisas: preciso lê-lo porque é um livro importantíssimo e um marco na literatura universal (e também porque dizem que todo escritor deve ler, e como quero ser escritora, também pretendo passar 16 de junho de 1904 em Dublin — que é quando e onde acontece a ação de Ulisses) e preciso lê-lo porque me foi mandado. Exatamente. Mandado. Acho tão engraçado você ser obrigada a ler um livro de exatamente 852 páginas, de James Joyce, um dos maiores gênios da literatura de todos os tempos. Não faz sentido na minha cabeça. Acho sempre que a leitura deveria ser sugerida e não imposta. Mesmo porque enquadrar um épico moderno desse tamanho (nos dois sentidos da palavra) dentro de moldes da narrativa literária, em que pouco se tem controle e profundidade em um curso de graduação em Letras, é uma tarefa um tanto quanto... equivocada.

Eu tenho medo de James Joyce. Eu tenho medo de Ulisses. Tenho medo porque não conheço, mas — principalmente — porque ainda não me acho preparada para conhecer. Queria poder passear pelos clássicos dentro do meu tempo. Ulisses não pode crescer em mim enquanto eu ainda não puder receber Ulisses nua de limitações. E tenho a impressão de que se os professores do nosso país tivessem isso em mente, teríamos um Brasil de mais leitores.

Fonte: Layse Morais, Capitu - Literatura e Cultura, 18/07/2010.

25 de set. de 2010

Eu apoio o Nelsinho para Deputado Estadual no RS


*
Eu apoio o Nelsinho por sua profunda identificação com os movimentos sociais e culturais de nosso RS.
*
Gerson Vieira
Poeta e cronista
Membro da Casa do Poeta de Canoas

19 de set. de 2010

Humanistas homenageiam Silo em sua partida


Fotos: 1- Ehrick, Silo, Gerson e Marcos / 2- Silo


El Movimiento por la Paz, la Soberanía y la Solidaridad entre los Pueblos (Mopassol) expresa su pesar por el fallecimiento del pensador Mario Luis Rodríguez Cobos (Silo) , fundador del "Nuevo Humanismo" cuya contribución a la causa de la vida sobre la tierra, a la lucha contra las armas nucleares y a la defensa de la paz es hoy reconocida por millones de personas en el mundo entero. Expresamos nuestras sinceras condolencias a los apreciados compañeros y compañeras del Partido Humanista en la Argentina y en particular a nuestro querido compañero y amigo Jorge D'Alesio, miembro de la Mesa Directiva del Mopassol, con quienes hemos tenido ocasión de compartir valiosas jornadas militantes durante la reciente Marcha Mundial por la Paz inspirada en los ideales de Silo.

Por la Mesa Directiva del Mopassol.
Rina Bertaccini y Stella Calloni

Buenos Aires, 18 de septiembre de 2010

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sábado 18 de setembro de 2010, por Ana Facundes

O escritor e pensador Mario Luis Rodríguez Cobos, mais conhecido como Silo, fundador do Movimento Humanista, morreu na noite desta quinta-feira (16), aos 72 anos em sua casa, em Mendoza, Argentina.

Silo enfrentava há mais de um ano uma insuficiência renal e havia decidido não fazer transplante, nem hemodiálise ou dieta. Segundo Tomás Hirsch, seu amigo há décadas e ex-candidato à presidência do Chile,“ele faleceu como alguém que não apenas não acreditava na morte, mas sobretudo considerava a vida como parte de uma transcendência”.

A Comunidade para o Desenvolvimento Humano, a Convergência das Culturas, o Centro Mundial de Estudos Humanistas, o Partido Humanista e o Mundo sem Guerras e sem Violência são organizações, entre outras frentes de ação, inspiradas pelo Humanismo Universalista, corrente de pensamento fundada por Silo e que convoca à luta contra toda forma de violência e discriminação, indicando a necessidade de uma transformação social e pessoal simultâneas baseadas na coerência e na solidariedade.

Sua primeira aparição pública aconteceu em 4 de maio de 1969, com a arenga "A Cura do Sofrimento", em que lançou as bases para a formação do Movimento Humanista, em plena ditadura militar na Argentina.

Com a notícia de seu falecimento, em pouco tempo, os humanistas se reuniam nos Parques de Estudo Reflexão – projeto lançado por Silo em 2002. Em países tão diferentes quanto Filipinas, Moçambique, Brasil, Alemanha, Bolívia, México, Espanha, Itália, Índia, Chile, Colômbia, Hungria e Estados Unidos, os ativistas se reuniram nesses espaços dedicados ao estudo, ao autoconhecimento e à não-violência para celebrar a vida de um homem cujas ações transcendem esse espaço e esse tempo.

Sua última aparição pública ocorreu no encerramento da Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência, que partiu da Nova Zelândia, em 2 de outubro de 2009 e terminou em Punta de Vacas, Mendoza, Argentina, em 2 de janeiro de 2010. Essa ação inspirada por Silo transformou-se em uma grande mobilização planetária para exigir o desarmamento nuclear mundial, o fim das guerras, a retirada das tropas invasoras dos territórios ocupados, além de criar consciência sobre os diversos tipos de violência exercidos pelo sistema e a violência interna que precisa ser desarmada em cada um através do compromisso com a não-violência.

Sua obra inclui os títulos O Olhar Interior (1980), A Paisagem Interna (1981), Humanizar a Terra (1989), Experiências Guiadas (1989), Contribuições ao Pensamento (1991), Mitos, Raízes Universais (1991), Cartas a meus Amigos (1993), O Dia do Leão Alado (1993), Dicionário do Novo Humanismo (1996), Fala Silo (1996), Apontamentos de Psicologia (2006). Todos os livros estão disponíveis para download integral em diversos idiomas no site abaixo.

NOTA DO BLOGUEIRO:

Conheci Silo em 2008, na cidade de Cotia-SP, no Parque de Estudo e Reflexão de Caucaia. Foi meu contato inesquecível com este humanista e seu amigo Tomás Hirsch (ex-candidato à presidência do Chile). Em breve mais considerações sobre Silo e o Movimento Humanista Internacional.

Paz, força e alegria, onde estiveres Silo!

21 de ago. de 2010

Raul Seixas - Já se vão 21 anos


Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 — São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um cantor, compositor, produtor e músico brasileiro.

Filho do engenheiro Raul Varella Seixas e da dona de casa Maria Eugênia Santos Seixas, Raul nasceu e cresceu na cidade de Salvador. Tinha um irmão, quatro anos mais novo, Plínio Seixas. Em casa, mergulhava nos livros que tinha à disposição, na biblioteca do pai.

Início
Seu gosto musical foi se moldando: primeiro, no rádio, acompanha o sucesso de Luiz Gonzaga, e nas viagens, onde acompanha o pai, ouve os matutos desfiarem repentes - e esta "raiz" nordestina nunca o abandonara. Porém, logo Raulzito (como era chamado em família) conheceu um estilo que influenciou muito sua vida: o Rock'n Roll. Teve contato com o Rock através do consulado norte-americano, que ficava próximo de sua casa. A partir daí, foram muitas horas diárias na loja "Cantinho da Música", ouvindo discos de rock e várias sessões nos cinemas, onde passou a apreciar as performances de Elvis Presley, de quem torna-se fã. Tão fã que assistiu vinte e oito vezes ao filme "O Prisioneiro do Rock" e chegou a fundar o "Elvis Presley Fã-Clube de Salvador".[1] Sempre gostou também de clássicos do rock dos anos 50 e 60.

Juntamente com alguns amigos de Salvador, monta um conjunto, "Os Relâmpagos do Rock"[2], a primeira banda de Salvador a utilizar instrumentos elétricos.[carece de fontes?] Mais tarde, a banda muda de nome, passa a se chamar "The Panters"[2], e por último "Raulzito e os Panteras". Fazem shows pelo estado em bailes e festinhas e até mesmo para um público de duas mil pessoas no Festival da Juventude. Mas o sucesso da banda não ultrapassava o eixo baiano, fato que aborrecia Raul.[carece de fontes?] A decepção com o mundo artístico foi reforçada pelo namoro com a americana Edith Wisner. A pedidos do pai da garota - que era pastor protestante - Raul abandona a carreira musical.[3] Algum tempo depois casa-se com Edith e passa a lecionar inglês e violão para ganhar a vida.

Em 1967, Jerry Adriani vai a Salvador realizar um show no Iate Club da Bahia, mas alguns de seus músicos foram barrados por serem negros. A título de urgência Os Panteras foram indicados para suprir a falta. Raul Seixas impressiona Jerry que o convida para acompanhá-lo numa turnê pelo Rio de Janeiro pedido este que Raul Seixas aceita de imediato. E lá ele grava um disco pela gravadora Odeon. Todavia, o disco não emplacou. O guitarrista Mariano Lanat deixa a banda e retorna a Salvador. Plínio Seixas, irmão de Raul, o substituiu, mas a banda estava mesmo com os dias contados no Rio e logo todos estavam desapontados de volta a Salvador.

Fase difícil na vida de Raul, que passava horas trancado no quarto lendo e escrevendo. Edith dava aulas de inglês para o sustento do casal.

Em 1970 Raul foi convidado por Evandro Ribeiro para ser produtor da CBS (atual Sony BMG), voltando então a morar no Rio de Janeiro com Edith. Na CBS participa da produção de diversos artistas da Jovem Guarda, como o amigo Jerry Adriani, Leno e Lilian e mais tarde Sérgio Sampaio, Diana, entre outros. Também compõe sessenta canções para a Jovem Guarda e Pós-Jovem Guarda.[4]. Uma das músicas que fizeram mais sucesso nesta fase, foram Ainda Queima a Esperança na voz de Diana, e Doce Doce Amor na voz de Jerry Adriani[4].

Em 1971, Raul acaba se rebelando. Aproveitando a ausência do presidente da empresa, grava seu segundo LP (intitulado Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10), em que faz parceria com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. O disco, todavia, foi retirado do mercado sob o argumento de não se enquadrar à linha de atuação da gravadora. Raul permaneceu ainda algum tempo na CBS após isso, mas insatisfeito por não estar cantando, pediu demissão.

Em 1972, participou do VII FIC (Festival Internacional da Canção), promovido pela Rede Globo, e conseguiu a classificação de duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing" (um misto de baião e rockabilly)[5] e "Eu Sou Eu Nicuri é o Diabo". Devido à façanha, assinou com a gravadora Philips (atual Universal Music) para gravar o álbum Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, que não tinha o seu nome na capa.

[editar] Auge e queda
No início dos anos 1970, Raul se interessou por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista A Pomba e teve o seu primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.[3]

No ano de 1973, Raul conseguiu um grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-Ha, Bandolo, uma música com letra quase autobiográfica, mas que debocha da Ditadura e do "Milagre Econômico".

O mesmo LP também continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como: "Metamorfose Ambulante, "Mosca na Sopa" e Al Capone.

Raul Seixas finalmente alcançou grande repercussão nacional como uma grande promessa de um novo compositor e cantor.[carece de fontes?] Porém, logo a imprensa e os fãs da época foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.

No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, onde a principal lei é "Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei". Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome. A Ditadura, então, através do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo. Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos onde Raul Seixas teria supostamente se encontrado com John Lennon.[2] No entanto, o seu LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso com a música "Gita", que a Ditadura achou melhor trazer os dois de volta ao Brasil para não levantar suspeitas sobre seus desaparecimentos.[carece de fontes?] O álbum Gita rendeu a Raul um disco de ouro, após vender 600.000 cópias. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados Unidos com a filha do casal, Simone.

Em 1975, casa-se com Gloria Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde Raul compôs uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez". O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias.

Em 1976, Raul supera a má-vendagem do disco anterior com o disco Há Dez Mil Anos Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet.

Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A parceria com Paulo Coelho é desfeita. O cantor lança três discos pela WEA (hoje Warner Music Brasil), a partir de 1977, que fizeram sucesso de público e desgosto na crítica (O Dia Em Que A Terra Parou, que continha canções como "Maluco Beleza" e "Sapato 36"; Mata Virgem, em 1978 e Por Quem Os Sinos Dobram, em 1979). Por volta deste período, intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto Andrade de Azevedo (geralmente creditado como Cláudio Roberto), com quem Raul compôs várias de suas canções mais conhecidas.

A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde devido ao consumo de álcool, que lhe causa a perda de 1/3 do pâncreas.[carece de fontes?] Separa-se de Glória, que vai embora para os EUA levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa a viver.

No ano de 1979, separa-se de Tania. Começa então a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira.

[editar] Altos e baixos
No ano de 1980, assina novamente contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém outros sucessos e têm as faixas "Rock das 'Aranha'" e "Aluga-se" censuradas. Logo depois o contrato é rescindido.

Em 1981 nasce a terceira filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika.

Em 1982 faz um show na praia do Gonzaga, em Santos, reunindo mais de 150 mil pessoas. No mesmo ano, Raul apresenta-se bêbado em Caieiras, São Paulo, e é quase linchado pela platéia que não acredita que Raul é o próprio, mas um impostor.[1]

Desde 1980 Raul estava sem gravadora e agora também sem perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na depressão, Raul afunda-se nas drogas. Porém, em 1983, Raul é convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo, onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983), que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 1984 grava o LP "Metrô Linha 743" pela gravadora Som Livre. Mas depois Raul teve as portas fechadas novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e constantes internações para desintoxicação. Também em 1984 a Eldorado lança o disco Ao Vivo - Único e Exclusivo.

Em 1985, separa-se de Kika Seixas. Faz um show em 1 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade de São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988, ao lado de Marcelo Nova.

Conseguindo um contrato com a gravadora Copacabana, em 1986 (de propriedade da EMI), grava um disco que foi lançado somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! faz grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente até em programas de televisão, como o Fantástico. Nesta época, conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira. A partir desse ano, estreita relações com Marcelo Nova (fazendo uma participação no disco Duplo Sentido, da banda Camisa de Vênus).

Um ano mais tarde, 1988, já separado de Lena, faz seu último álbum solo, A Pedra do Gênesis.

A convite de Marcelo Nova, faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco.

No ano de 1989, faz uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show, a primeira metade é feita somente por Marcelo Nova.

[editar] "Canto Para Minha Morte"

Universo Alternativo - fantasia sobre o "Profeta" Raul Seixas.As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 19 de agosto de 1989.

Dois dias depois, na manhã do dia 21 de agosto de 1989, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama pela sua empregada Dalva, por volta das oito horas da manhã, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira.

Depois de sua morte, Raul permaneceu entre as paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns póstumos, como O Baú do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998). Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de Raul Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com músicas inéditas como As Profecias (com uma versão ao vivo de "Rock das Aranhas") de 1991 e Anarkilópolis (com "Cowboy Fora da Lei Nº2") de 2003. Sua penúltima mulher, Kika, já produziu um livro do cantor (O Baú do Raul), baseado em escritos dos diários de Raul Seixas desde os seis anos de idade até a sua morte.

Em 2004, o canal a cabo Multishow promoveu um show especial de tributo a Raul, intitulado O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. O show, gravado na Fundição Progresso (Rio de Janeiro) e lançado em CD e DVD, contou com artistas como Toni Garrido, CPM 22, Marcelo D2, Gabriel o Pensador, Arnaldo Brandão, Raimundos, Nasi, Caetano Veloso, Pitty e Marcelo Nova (os três últimos baianos, como Raul).

Mesmo depois de sua morte, Raul Seixas continua fazendo sucesso entre novas gerações. Vinte anos depois de sua morte, o produtor musical Mazzola, amigo pessoal de Raul, divulgou a canção inédita "Gospel", censurada na década de 1970. A canção foi incluída na trilha sonora da telenovela Viver a Vida, da Rede Globo.

Álbuns de estúdio
1968 - Raulzito e os Panteras
1971 - Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (Com Sérgio Sampaio, Míriam Batucada e Edy Star)
1973 - Krig-Ha, Bandolo!
1973 - Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock
1974 - Gita
1974 - O Rebu (Trilha sonora da novela de mesmo nome - contém músicas inéditas até então)
1975 - 20 Anos de Rock (Reedição de Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock)
1975 - Novo Aeon
1976 - Há 10 Mil Anos Atrás
1977 - O Dia Em Que a Terra Parou
1977 - Raul Rock Seixas
1978 - Mata Virgem
1979 - Por Quem Os Sinos Dobram
1980 - Abre-te Sésamo
1983 - Raul Seixas
1984 - Metrô Linha 743
1985 - 30 Anos de Rock (Reedição de Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock)
1985 - Let Me Sing My Rock And Roll (Coletânea lançada em tiragem limitada somente em LP)
1986 - Raul Rock Seixas Volume 2 (Coletânea com faixas inéditas)
1987 - Caroço de Manga (Reedição de Let Me Sing My Rock And Roll lançado em LP e CD)
1987 - Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!
1988 - A Pedra do Gênesis
1989 - A Panela do Diabo (Com Marcelo Nova)
[editar] Álbuns póstumos
1992 - O Baú do Raul
1998 - Documento
2005 - O Baú do Raul Revirado (CD com raridades vendido somente com o livro de mesmo nome)
2009 - 20 Anos sem Raul Seixas (Reedição de Documento com uma faixa inédita extra)
[editar] Coletâneas
1981 - O Melhor De Raul Seixas
1982 - A arte de Raul Seixas
1983 - O Pacote Fechado de Raul Seixas
1985 - Let Me Sing My Rock And Roll
1985 - Raul Seixas Rock
1986 - Caminhos
1986 - Raul Rock Seixas Volume 2
1987 - Caroço de Manga
1988 - Metamorfose Ambulante
1988 - O Segredo do Universo
1988 - Raul Seixas Para Sempre
1990 - Maluco Beleza
1991 - As Profecias (Contém uma faixa inédita)
1993 - Os Grandes Sucessos de Raul Seixas
1994 - Minha História
1995 - Geração Pop Vol.2: Raul Seixas
1996 - MPB Compositores 4: Raul Seixas
1998 - 20 Grandes Sucessos de Raul Seixas
1998 - Preferência Nacional
1998 - Música! O Melhor da Música de Raul Seixas
1999 - Millennium: Raul Seixas
2000 - Areia da Ampulheta
2000 - Enciclopedia Musical Brasileira
2001 - Warner 25 Anos: Raul Seixas
2002 - Série Identidade: Raul Seixas
2002 - Série Gold: Raul Seixas
2003 - Anarkilópolis (Contém uma faixa inédita)
2003 - Os Melhores do Maluco Beleza
2004 - Essential Brasil: Raul Seixas
2005 - Novo Millennium: Raul Seixas
2005 - Série Bis: Raul Seixas
2006 - Warner 30 Anos: Raul Seixas
2008 - Sem Limite: Raul Seixas
[editar] Álbuns ao vivo
1984 - Ao Vivo - Único e Exclusivo
1991 - Eu, Raul Seixas (Show na Praia do Gonzaga, Santos, 1982)
1993 - Raul Vivo (Reedição de Ao Vivo - Único e Exclusivo com faixas extras)
1994 - Se o Rádio Não Toca... (Show em Brasília, 1974)
[editar] Singles póstumos
1993 - A Maçã / Como Vovó Já Dizia / Sociedade Alternativa / Gita (CD - Philips)
1993 - Jay Vaquer Featuring Raul Seixas - Mosca na Sopa / 72 en 92 (CD - Girl/USA)
1998 - Morning Train (Promo - CD - MZA/Polygram)
1998 - É Fim de Mês (Promo - CD - MZA/Polygram)
[editar] Caixas
1995 - Série Grandes Nomes: Raul (Caixa com 4 CDs e livreto ilustrado)
2002 - Maluco Beleza (Caixa com 6 CDs e livro ilustrado)
2009 - 10.000 Anos à Frente (Reedição da caixa Maluco Beleza)
[editar] Trilhas sonoras
1973 - A Volta de Beto Rockfeller
1973 - Rosa dos Ventos
1974 - O Rebu
1983 - Plunct, Plact, Zuuum
1984 - Plunct, Plact, Zuuum II
2002 - Cidade de Deus
2009 - Viver a Vida
[editar] Tributos
2004 - O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas
[editar] Outros álbuns
1972 - Carnaval Chegou (Coletânea com vários artistas. Raul canta a faixa Eterno Carnaval)
1973 - Phono 73 O Canto de um Povo - Volume 1 (LP gravado ao vivo em 1973 com vários artistas da gravadora Philips. Raul aparece com a música Loteria de Babilônia)
1975 - Hollywood Rock (Falso álbum ao vivo, lançado somente em LP, e dividido com Erasmo Carlos, O Peso e Rita Lee)
1979 - O Banquete dos Mendigos (LP duplo gravado ao vivo em 1973 com vários artistas. Raul aparece com a faixa Cachorro - Urubu)
1987 - Duplo Sentido (LP duplo da banda baiana Camisa de Vênus no qual Raul canta na faixa Muita Estrela, Pouca Constelação)
1995 - Vida e obra de Johnny McCartney - Álbum do cantor e compositor Leno, gravado (e censurado) em 1971. Raulzito (Raul Seixas) participa na produção, composições e vocais.

Fonte: Wikipedia

NOTA: Eu era fã do Maluco Beleza! Sem comentários!