Foram tempos melhores
Trinta anos atrás, hoje: o dia em que a classe média morreu
Por Michael Moore
Houve um tempo em que o povo trabalhador dos Estados Unidos podia criar uma família e enviar as crianças à faculdade com a renda de um só dos pais (e que as faculdades em estados como Califórnia e Nova York eram quase gratuitas). De um tempo em que quem quisesse ter um trabalho remunerado decente o teria; em que as pessoas só trabalhavam cinco dias por semana e oito horas por dia, tinham todo o fim de semana de folga e as férias pagas todo verão. Esse tempo terminou no dia 5 de agosto de 1981.
De tempos em tempos, alguém com menos de 30 anos irà ¡ me perguntar: “Quando tudo isso começou, o deslizamento da América ladeira abaixo?”.
Eles dizem que ouviram falar de um tempo em que o povo trabalhador podia criar uma família e enviar as crianças à faculdade com a renda de um só dos pais (e que as faculdades em estados como Califórnia e Nova York eram quase gratuitas). De um tempo em que quem quisesse ter um trabalho remunerado decente o teria; em que as pessoas só trabalhavam cinco dias por semana e oito horas por dia, tinham todo o fim de semana de folga e as férias pagas todo verão. Que muitos empregos eram sindicalizados, de empacotadores em supermercados ao cara que pintava sua casa, e isso significava que não importava qual o seu trabalho, pois, por menos qualificado que fosse, lhe daria as garantias de uma aposentadoria, aumentos eventuais, seguro saúde e alguém para defendê-lo se fosse tratado injustamente.
As pessoas jov ens têm ouvido a respeito desse tempo mítico – só que não é mito, foi real. E quando eles perguntam: “quando tudo isso acabou?”, eu digo: terminou neste dia: 5 de agosto de 1981.
A partir desta data, 30 anos atrás, o Grande Negócio e a Direita decidiram “botar para quebrar” – para ver se poderiam de fato destruir a classe média, e assim se tornarem mais ricos.
E eles se deram bem.
Em 5 de agosto de 1981, o presidente Ronald Reagan atacou todos os membros do sindicato dos controladores de vôo [PATCO – sigla em inglês], que tinha desafiado sua ordem de retornarem ao trabalho e declarou seu sindicato ilegal. Eles estavam de greve há apenas dois dias.
Foi um movimento forte e audacioso. Ninguém jamais tinha tentado isso. O que o tornou ainda mais forte foi o fato de que o PATCO foi um dos dois únicos sindicatos que tinha apoiado Reagan para presidente! Isso gerou uma onda de pânico nos trabalhadores ao longo do país. Se ele fez isso com as pessoas que votaram nele, o que fará conosco?
Reagan foi apoiado por Wall Street na sua corrida para a Casa Branca e eles, junto à direita cristã, queriam reestruturar a América e mudar a direção da tendência inaugurada pelo presidente Franklin D. Roosevelt – uma tendência concebida para tornar a vida melhor para o trabalhador
comum. Os ricos odiavam pagar salários melhores e arcarem com os custos dos benefícios sociais. E eles odiavam ainda mais pagar impostos. E desprezavam os sindicatos. A direita cristã odiava qualquer coisa que soasse como socialismo ou que defendesse o reconhecimento de minorias ou
mulheres.
Reagan prometeu acabar com tudo. Assim, quando os controladores de tráfego aéreo entraram em greve, ele aproveitou o momento. Ao se livrar de todos eles e jogar seu sindicato na ilegalidade, ele enviou uma clara e forte mensagem: os dias de todos com uma vida confortável de classe média acabaram. A América, a partir de agora, será comandada da seguinte
maneira:
* Os super-ricos vão fazer muito, mas muito mais dinheiro e o resto de vocês vai se digladiar pelas migalhas deixadas pelo caminho.
* Todos devem trabalhar! Mãe, Pai, os adolescentes, na casa! Pai, você trabalha num segundo emprego! Crianças, aqui estão as suas chaves para vocês voltarem para casa sozinhas! Seus pais devem estar em casa na hora de pô-los para dormir.
* 50 milhões de vocês devem ficar sem seguro de saúde! E para metade das companhias de seguro: vão em frente e decidam quem vocês querem ajudar – ou não.
* Os sindicatos são maus! Você não será sindicalizado! Você não precisa de um advogado! Cale a boca e volte para o trabalho! Não, você não pode ir embora agora, não terminamos ainda. Suas crianças podem fazer seu próprio jantar.
* Você quer ir para a faculdade? Sem problemas – assine aqui e fique empenhado num banco pelos próximos 20 anos!
*O que é “aumento”? Volte ao trabalho e cale a boca!
E por aí vai. Mas Reagan não poderia ter levado tudo isso a cabo sozinho, em 1981. Ele teve uma grande ajuda: a AFL-CIO. A maior central sindical dos EUA disse aos seus membros para furarem a greve dos controladores de tráfego aéreo e irem trabalhar. E foi só o que esses membros do sindicato fizeram. Pilotos sindicalizados, comissários de bordo, motoristas de caminhão, operadores de bagagens – todos eles furaram a greve e ajudaram a quebra-la. E os membros do sindicato de todas as categorias furaram os piquetes ao voltarem a voar.
Reagan e Wall Street não podiam crer nos seus olhos! Centenas de milhares de trabalhadores e membros dos sindicatos apoiando a demissão de companheiros sindicalizados. Foi um presente de natal em Agosto para as corporações da América.
E isso foi só o começo. Reagan e os Republicanos sabiam que poderiam fazer o que quisessem, e o fizeram. Eles cortaram os impostos para os ricos. Tornaram a sua vida mais dura, caso quisesse abrir um sindicato no seu local de trabalho. Eliminaram normas de segurança do trabalho.
Ignoraram as leis contra o monopólio e permitiram que milhares de empresas se fusionassem ou fossem compradas e fechassem as portas. As corporações congelaram os salários e ameaçaram mudar de país se os trabalhadores não aceitassem receber menos e com menos benefícios. E
quando os trabalhadores concordaram em trabalhar por menos, eles exportaram os empregos mesmo assim.
E a cada passo dado nesse caminho, a maioria dos americanos estavam juntos, apoiando-os. Houve pouca opo sição ou contra-ataque. As “massas” não se levantaram e protegeram os seus empregos, suas moradias e escolas (os quais costumavam ser os melhores do mundo). Simplesmente aceitaram seu destino e tomaram porrada.
Eu sempre me pergunto o que teria ocorrido se eles tivessem parado de voar, ponto, em 1981. E se todos os sindicatos tivessem dito a Reagan “Dê a esses controladores de voo os seus empregos de volta ou eles derrubarão o país”? Você sabe o que teria acontecido. A elite das
corporações e seu boy, Reagan, teriam se dobrado.
Mas nós não fizemos isso. E assim, passo a passo, peça por peça, nos 30 anos seguintes aqueles que estiveram no poder destruíram a classe média em nosso país e, em troca, arruinaram o futuro de nossa juventude. Os salários permaneceram estagnados por 30 anos. Dê uma olhada nas estatísticas e você poderá ver que todo o declínio que estamos sofrendo agora teve seu início em 1981 (eis aqui http://www.youtube.com/watch?v=vvVAPsn3Fpk uma pequena cena para
ilustrar essa história, do meu filme mais recente).
Tudo isso começou neste dia, há 30 anos. Um dos dias mais obscuros na história dos EUA. E nós deixamos que isso ocorresse a nós. Sim, eles tinham o dinheiro e a mídia e as corporações. Mas nós tínhamos 200 milhões de nós. Você já se perguntou o que seria se 200 milhões tivessem
se enfurecido e quisessem seu país, sua vida, seu emprego, seu fim de semana, seu tempo com suas crianças de volta?
Nós todos simplesmente desistimos? O que estamos esperando? Esqueça os 20% que apoiam o Tea Party – nós somos os outros 80%! Esse declínio só vai terminar quando exigirmos isso. E não por meio de uma petição online ou de uma twittada. Teremos de desligar as tev ês e os computadores e os videogames e tomar as ruas (como o fizeram no Wisconsin). Alguns de
vocês precisam sair dos seus gabinetes de trabalho local no próximo ano.
Precisamos exigir que os democratas tenham coragem e parem de receber dinheiro de corporações – ou as deixem de lado.
Quando será suficiente, o suficiente? O sonho da classe média não reaparecerá magicamente. O plano de Wall Street é claro: a América deve ser uma nação dos que têm e dos que nada têm. Isso está bem para você?
Por que não aproveitar hoje (05/08) para parar e pensar a respeito dos pequenos passos que você pode dar pela sua vizinhança e em seu local de trabalho, em sua escola? Há algum outro dia melhor para começar a fazer isso, que não seja hoje?
Tradução: Katarina Peixoto
11 de ago. de 2011
4 de ago. de 2011
Giovani Cherini (PDT-RS) e a Gang da Matriz - Nunca Mais!
GANG DA MATRIZ (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RS, para quem não sabe)!
CENSURA NÃO, DEPUTADO CHERINI E DEMAIS! O POVO TEM O DIREITO DE SABER!
Neste espaço faço a crítica aos parlamentares e companheiros (do PT) que ocupam cargos públicos e cometem "atos falhos". Falo dos bons, dos maus, enfim utilizo a "liberdade de expressão burguesa" para isso. Não gosto de falar dos outros (partidos) porque todas as m...possíveis já alcançaram a minha legenda (PT), mas a roubalheira é tanta que causa indignação. A reação será do povo. Reaja povo!
Mas hoje vou falar de um ex-deputado estadual chamado Giovani Cherini que se elegeu deputado federal, pelo PTD. O mesmo não aguentou a crítica e processou o cantor e compositor Tonho Crocco (ex-vocalista da antiga banda Ultramen) por criticá-lo e também os demais deputados gaúchos que se autoconcederam um aumento fenomenal de 73% no ano passado. Lembro que os Titãs fizeram crítica semelhante (aquela chamada "Vossa Excelência")
Falar neste espaço sobre esse assunto seria também ser processado pelo ilustre deputado com seus projetos maravilhosos, suas idéias fantásticas, tudo pago pelo meu, pelo seu e pelo dinheiro dos meus compatriotas gaúchos. Vamos divulgar essas barbaridades Brasil a fora. A notícia já saiu no Paraná e em vários estados brasileiros. Assim todos ficam sabendo que no RS também tem coisa legal e imoral!
ASSISTAM AO RAP - Que poderá servir de gingle para as próximas campanhas eleitorais:
(Para saber mais sobre o músico:http://www.tonhocrocco.com/novo/index.php)
ASSISTAM AO DEPOIMENTO A FAVOR DO MÚSICO:
VOSSA EXCELÊNCIA - TITÃS (para deputados, senadores e vereadores corruptos):
CENSURA NÃO, DEPUTADO CHERINI E DEMAIS! O POVO TEM O DIREITO DE SABER!
Neste espaço faço a crítica aos parlamentares e companheiros (do PT) que ocupam cargos públicos e cometem "atos falhos". Falo dos bons, dos maus, enfim utilizo a "liberdade de expressão burguesa" para isso. Não gosto de falar dos outros (partidos) porque todas as m...possíveis já alcançaram a minha legenda (PT), mas a roubalheira é tanta que causa indignação. A reação será do povo. Reaja povo!
Mas hoje vou falar de um ex-deputado estadual chamado Giovani Cherini que se elegeu deputado federal, pelo PTD. O mesmo não aguentou a crítica e processou o cantor e compositor Tonho Crocco (ex-vocalista da antiga banda Ultramen) por criticá-lo e também os demais deputados gaúchos que se autoconcederam um aumento fenomenal de 73% no ano passado. Lembro que os Titãs fizeram crítica semelhante (aquela chamada "Vossa Excelência")
Falar neste espaço sobre esse assunto seria também ser processado pelo ilustre deputado com seus projetos maravilhosos, suas idéias fantásticas, tudo pago pelo meu, pelo seu e pelo dinheiro dos meus compatriotas gaúchos. Vamos divulgar essas barbaridades Brasil a fora. A notícia já saiu no Paraná e em vários estados brasileiros. Assim todos ficam sabendo que no RS também tem coisa legal e imoral!
ASSISTAM AO RAP - Que poderá servir de gingle para as próximas campanhas eleitorais:
(Para saber mais sobre o músico:http://www.tonhocrocco.com/novo/index.php)
ASSISTAM AO DEPOIMENTO A FAVOR DO MÚSICO:
VOSSA EXCELÊNCIA - TITÃS (para deputados, senadores e vereadores corruptos):
24 de jul. de 2011
A limpa de Dilma no Ministério dos Transportes
Apoio a atitude da presidente Dilma ao fazer uma varrição no Ministério dos Transportes. Já era a hora de acabar com esse descalabro comentado nos quatro cantos do país.
Sobrou até para o Hideraldo Caron (se não me falha a memória foi secretário em um dos governos petistas na Prefeitura de Porto Alegre). Eu lembro de tê-lo visto em alguns encontros estaduais e reuniões do Orçamento Participativo em décadas passadas.
Aqueles caras que estavam no ministério são traficantes da pior espécie, assassinos do povo, das crianças, daqueles que precisam de atendimento no SUS, dos que se aposentam e sobrevivem com menos de um salário mínimo, se houvesse pena de morte estariam TODOS MORTOS, ou não? Opine, o que você acha?
Sobrou até para o Hideraldo Caron (se não me falha a memória foi secretário em um dos governos petistas na Prefeitura de Porto Alegre). Eu lembro de tê-lo visto em alguns encontros estaduais e reuniões do Orçamento Participativo em décadas passadas.
Aqueles caras que estavam no ministério são traficantes da pior espécie, assassinos do povo, das crianças, daqueles que precisam de atendimento no SUS, dos que se aposentam e sobrevivem com menos de um salário mínimo, se houvesse pena de morte estariam TODOS MORTOS, ou não? Opine, o que você acha?
16 de jul. de 2011
Gay e transexual cubanos vão se casar no aniversário de Fidel
Um ativista cubano dos direitos dos homossexuais e sua noiva, transexual, decidiram se casar no dia do aniversário de Fidel Castro, no mês que vem, como forma de promover a discussão sobre os direitos dos homossexuais na ilha comunista.
Wendy Iriepa, 37, virou mulher depois de se submeter à primeira cirurgia de troca de sexo com aval do governo cubano, em 2007. Ela vai se casar com Ignácio Estrada, de 31 anos e portador do vírus da Aids, em 13 de agosto - dia em que o ex-presidente Fidel completa 85 anos.
O casal disse que a cerimônia será "um presente" para Fidel. A união será algo inédito em Cuba, onde os homossexuais já foram reprimidos, mas ganharam mais liberdades nos últimos anos, graças à militância da sexóloga Mariela Castro, filha do presidente Raúl Castro e sobrinha de Fidel.
Os casamentos homossexuais não são reconhecidos pela lei cubana, mas Iriepa agora está legalmente registrada como mulher.
A cerimônia, gratuita e com direito a engradados de cerveja dados pelo Estado, foi marcada para um "palácio nupcial" na capital Havana.
Iriepa, que trabalhou com Mariela no Centro Nacional de Educação Sexual, disse que o casamento não será um gesto político. "Eu sempre quis me casar (...), eu não queria ver isto como algo político, como se eu estivesse atacando o governo, ou talvez Fidel e a revolução. Quero que nos vejam como duas pessoas marcando um ''antes'' e um ''depois''", disse ela à Reuters.
Ela reconheceu o papel de Mariela na concessão de mais liberdades aos homossexuais, mas disse que decidiu parar de trabalhar com a "primeira-filha" depois que esta questionou seu relacionamento com Estrada, por causa das atividades dele como ativista independente.
Estrada acusa Mariela de ter "sequestrado" a causa homossexual para o regime comunista. No mês passado, ele organizou uma passeata "independente" pelos direitos dos homossexuais, mas apenas nove pessoas compareceram, segundo testemunhas.
Iriepa negou ser uma dissidente. "Sou uma patriota e revolucionária, porque vou continuar fazendo a revolução dentro do meu país, e fazendo coisas novas."
Falando de temas mais mundanos, ela comentou a roupa que prepara para o casamento: "Um vestido tomara-que-caia (...), nada tradicional, não gosto de casamentos tradicionais, quero o meu casamento o mais simples possível."
Wendy Iriepa, 37, virou mulher depois de se submeter à primeira cirurgia de troca de sexo com aval do governo cubano, em 2007. Ela vai se casar com Ignácio Estrada, de 31 anos e portador do vírus da Aids, em 13 de agosto - dia em que o ex-presidente Fidel completa 85 anos.
O casal disse que a cerimônia será "um presente" para Fidel. A união será algo inédito em Cuba, onde os homossexuais já foram reprimidos, mas ganharam mais liberdades nos últimos anos, graças à militância da sexóloga Mariela Castro, filha do presidente Raúl Castro e sobrinha de Fidel.
Os casamentos homossexuais não são reconhecidos pela lei cubana, mas Iriepa agora está legalmente registrada como mulher.
A cerimônia, gratuita e com direito a engradados de cerveja dados pelo Estado, foi marcada para um "palácio nupcial" na capital Havana.
Iriepa, que trabalhou com Mariela no Centro Nacional de Educação Sexual, disse que o casamento não será um gesto político. "Eu sempre quis me casar (...), eu não queria ver isto como algo político, como se eu estivesse atacando o governo, ou talvez Fidel e a revolução. Quero que nos vejam como duas pessoas marcando um ''antes'' e um ''depois''", disse ela à Reuters.
Ela reconheceu o papel de Mariela na concessão de mais liberdades aos homossexuais, mas disse que decidiu parar de trabalhar com a "primeira-filha" depois que esta questionou seu relacionamento com Estrada, por causa das atividades dele como ativista independente.
Estrada acusa Mariela de ter "sequestrado" a causa homossexual para o regime comunista. No mês passado, ele organizou uma passeata "independente" pelos direitos dos homossexuais, mas apenas nove pessoas compareceram, segundo testemunhas.
Iriepa negou ser uma dissidente. "Sou uma patriota e revolucionária, porque vou continuar fazendo a revolução dentro do meu país, e fazendo coisas novas."
Falando de temas mais mundanos, ela comentou a roupa que prepara para o casamento: "Um vestido tomara-que-caia (...), nada tradicional, não gosto de casamentos tradicionais, quero o meu casamento o mais simples possível."
Fonte: Agência Reuters
NOTA DO BLOG:
Vivemos em profunda transformação neste planeta. A diversidade, a individualidade e as opções devem ser respeitadas, seja no socialismo ou no capitalismo.
25 de jun. de 2011
Entre os escravos chineses: a revolta na fábrica do mundo
25/6/2011
Os proletários chineses começam a reagir contra a exploração da sua mão-de-obra e buscar os direitos mais elementares "das democracias modernas". No mundo globalizado e neo-liberal um socialista está no FMI para "convencer" seus amigos socialistas que devem cobrar da classe operária de seus países o custo das loucuras capitalistas.
(Gerson Vieira)
Há semanas, explodiu na China o protesto dos operários explorados com horários massacrantes e salários de fome. O punho do regime não basta. E Pequim teme uma faísca que poderia queimar o milagre econômico. Essa região produz 11% do PIB nacional e um terço das exportações. Está em curso uma mobilização coletiva pelos direitos reconhecidos pelas democracias. Uma placa quebrada diz: "Servir o Povo". Ninguém a recolheu.
A reportagem é de Giampaolo Visetti, publicada no jornal La Repubblica, 24-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: Instituto Humanitas - Unisinos
Há alguns dias, parecem reprimidas, mas o ícone rompido da propaganda pós-maoísta ainda está aqui, não removido, sobre a rua. É surpreendente que alguém em Zengcheng tenha tido a coragem de derrubar publicamente o verbo sagrado da propaganda. É ainda mais estranho, porém, que a polícia e o exército de Guangdong, inclinados a impedir os tumultos pelas más, tenham esquecido à mostra peças tão constrangedoras.
São o testemunho das duas Chinas que, depois de 30 anos, estão enfrentando o primeiro aviso de desaceleração do crescimento. A primeira é a oficial, que lida com a exaltação vermelha e patrioticamente convocada para celebrar o 90º aniversário da fundação do partido-Estado. A segunda é a social, consumida pela desilusão das promessas do capitalismo comunista e coletivamente mobilizada para conquistar direitos reconhecidos pelas democracias em outros lugares.
Guangdong é o epicentro do confronto e não por acaso que o vento das revoltas de massa tenha se levantado da caixa-forte do milagre chinês. O "motor do Sul" nos últimos cinco anos cresceu a uma média recorde de 12,4%.
Para os próximos cinco anos, ele teve que redimensionar as estimativas para 8%, projetando a sombra de incerteza sobre uma freada nacional para 7%. A região-fábrica, no entanto, produz 11% do PIB chinês e um terço das exportações: por isso, a mensagem de que "Guangdong não está feliz", ardente refutação da campanha "Feliz Guangdong", lançada em janeiro pelo governador Wang Yang, agitar o poder de Pequim.
A crise, no ponto de apoio extremo da resistência econômica global, não estourou na outra semana, quando dezenas de distritos industriais foram postos sob ferro e fogo. Em Shenzhen, a gigante Foxconn, há um ano, está sendo solapada pelos suicídios em série dos operários. As primeiras greves de sucesso estouraram pouco longe dali, nas linhas de montagem deslocalizadas da Honda.
Em Meishan, desde segunda-feira, 4 mil operários de uma fábrica de bolsas, que produz para as marcas mais exclusivas do planeta, estão em greve contra turnos de 12 horas por dia por 100 euros de salário mensal. Por isso, pode parecer estranho que o atento governo central de Pequim, envolvido na transição do poder a partir de 2012, tenha perdido o controle da espinha dorsal da sua legitimação. Uma semana de guerrilha urbana, fidundida em Zhejiang, Hubei e Jiangxi. Na China, não se via isso desde a revolução de Mao.
O alarme disparou, no entanto, da constatação de que não só Guangdong já não é mais feliz. À coluna meridional da indústria, se acrescentou também aquela das matérias-primas, com a grande revolta do Norte, na Mongólia Interna das minas. E se acrescentam Xangai, ao Leste, onde a Bolsa não para de cair há meses e falta energia elétrica para enfrentar o verão, e por fim, a Oeste, também Chongqing, considerada a nova fronteira do desenvolvimento hi-tech. Aqui, segundo a propaganda, as coisas vão de vento em popa. No faroeste sem fiscalização do Império, milhares de pavilhões industriais e de arranha-céus estão desertos, 32 milhões de habitantes vivem intoxicados, e só o punho de ferro de Bo Xilai, o jovem príncipe nascente do partido, contém o excessivo poder mafioso das tríades.
Ao fracasso da "Happy Guangdong", sacudida pelas manifestações operárias escondidas, corresponde assim o triunfo das "Lições de entusiasmo vermelho", exportadas de Chongqing para as novas massas de irrefreáveis migrantes. Entre os dois polos chineses da produção e da propaganda, não está em jogo só o desafio entre Wang Yang e Bo Xilai, que tendem a disputar a hegemonia no próximo Politburo. Ao longo desse percurso, entre as canções da bandeira vermelha e das pedradas dos operários, decide-se o destino da nação candidata a liderar o mundo no século contemporâneo.
Os três mil dirigentes comunistas e os 80 milhões de inscritos no partido aplaudem o filme sobre a fundação do PCC e disputam dois milhões de cópias e 200 títulos sobre o seu próprio sucesso, "presente suntuoso para o aniversário nacional". Os 280 milhões de migrantes internos e os 540 milhões de operários começam, ao contrário, a não aceitar mais a "escravidão de Estado" e a lutar para conquistar "uma vida com menos harmonia e mais dignidade".
Só agora se começa, assim, a se intuir a inquietação de Pequim diante da ameaça de uma Revolução dos Jasmins, posta em cena no final de janeiro. Guangdong, Chongqing, Xangai e a Mongólia Interna, os quatro polos da ascensão chinesa, são sacudidos por crises locais, mas compõem o quadro de uma mesma emergência nacional: a passagem da China de um sistema econômico baseado em exportações a um sistema baseado no consumo interno, e a sua mudança social de um universo agrícola a uma galáxia de megalópoles.
Zengcheng é uma concentração explosiva também desse risco. No ano passado, depois do aumento dos salários médios para 187 euros por mês, 34% das empresas fecharam e, de 818 mil habitantes, os imigrantes romperam a marca de 502 mil. Se o Ocidente tivesse continuado a galope, o prodígio do Oriente poderia se reproduzir. Ao contrário, o mecanismo ficou no mesmo lugar. A oeste diminuíram as ordens e aumentaram as dívidas; a Leste, as fábricas se reduzem, e a inflação explode.
Para que as dificuldades econômicas mudem para o dissenso político e os muitos tumultos mudem para uma revolução, faltam as forças capazes de sintetizar uma oposição. Em todo o país, no entanto, parece ser evidente o nascimento de um bloco social combinado com uma hostilidade ao poder desconhecido há décadas. Operários escravizados, agricultores expropriados, recém-formados desempregados, empresários endividados, migrantes sem direitos, idosos sem bem-estar, dissidentes presos, grupos étnicos colonizados e aspirantes a candidatos independentes perseguidos formam uma inédita massa aideológica decidida a não festejar o próximo aniversário da nomenclatura vermelha.
A China escala posições no exterior, mas se descobre corroída por fraquezas internas subterrâneas: salários inaceitáveis, inflação fora de controle, preços dos alimentos nas alturas, insuficiência energética, desemprego em aumento, explosão da brecha entre ricos e pobres, funcionários corruptos, polícia propensa a abusos, custo insustentável dos imóveis, serviços sociais inexistentes. Os netos de Mao Zedong se veem, assim, como adversários dos filhos de Deng Xiaoping, e uma classe dirigente envelhecida se revela idônea para negar liberdades, mas inadequada para converter o a violência em saúde do crescimento.
O partido se dá conta de que 90 anos, sem reformas estruturais, mais do que a meta de uma longevidade política, é a linha de chegada de um autoritarismo. Dias atrás, enquanto os líderes de Pequim dirigiam apelos enigmáticos para "melhorar a gestão social", um documento do Banco Central do Povo revelou que, na última década, 18 mil funcionários fugiram para o exterior, com 90 bilhões de euros, e que os protestos de massa aumentaram de 9 para 180 mil. O invencível partido se autocelebra por suceder a si mesmo, compra dívidas e ideais estrangeiros, finge libertar Ai Weiwei e deixa na prisão centenas de intelectuais independentes.
A infinita e silenciosa China, ao contrário, foi sacudida como nunca depois de 1949 e de 1989. Em Guangzhou, para localizar os insurgentes, as autoridades tiveram que oferecer aos delatores 500 euros e a autorização de residência. Isso nunca havia acontecido: um pequeno tesouro em troca de um grande culpado. Não é só que Guangdong não esteja nada "happy": é que Pequim, colocando Mao em um retrato, descobre que não está mais no coração dos chineses. E que, em Zengcheng, a placa "Servir o Povo" pode permanecer quebrada na frente dos carros e das lojas queimadas.
Os proletários chineses começam a reagir contra a exploração da sua mão-de-obra e buscar os direitos mais elementares "das democracias modernas". No mundo globalizado e neo-liberal um socialista está no FMI para "convencer" seus amigos socialistas que devem cobrar da classe operária de seus países o custo das loucuras capitalistas.
(Gerson Vieira)
Há semanas, explodiu na China o protesto dos operários explorados com horários massacrantes e salários de fome. O punho do regime não basta. E Pequim teme uma faísca que poderia queimar o milagre econômico. Essa região produz 11% do PIB nacional e um terço das exportações. Está em curso uma mobilização coletiva pelos direitos reconhecidos pelas democracias. Uma placa quebrada diz: "Servir o Povo". Ninguém a recolheu.
A reportagem é de Giampaolo Visetti, publicada no jornal La Repubblica, 24-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: Instituto Humanitas - Unisinos
Há alguns dias, parecem reprimidas, mas o ícone rompido da propaganda pós-maoísta ainda está aqui, não removido, sobre a rua. É surpreendente que alguém em Zengcheng tenha tido a coragem de derrubar publicamente o verbo sagrado da propaganda. É ainda mais estranho, porém, que a polícia e o exército de Guangdong, inclinados a impedir os tumultos pelas más, tenham esquecido à mostra peças tão constrangedoras.
São o testemunho das duas Chinas que, depois de 30 anos, estão enfrentando o primeiro aviso de desaceleração do crescimento. A primeira é a oficial, que lida com a exaltação vermelha e patrioticamente convocada para celebrar o 90º aniversário da fundação do partido-Estado. A segunda é a social, consumida pela desilusão das promessas do capitalismo comunista e coletivamente mobilizada para conquistar direitos reconhecidos pelas democracias em outros lugares.
Guangdong é o epicentro do confronto e não por acaso que o vento das revoltas de massa tenha se levantado da caixa-forte do milagre chinês. O "motor do Sul" nos últimos cinco anos cresceu a uma média recorde de 12,4%.
Para os próximos cinco anos, ele teve que redimensionar as estimativas para 8%, projetando a sombra de incerteza sobre uma freada nacional para 7%. A região-fábrica, no entanto, produz 11% do PIB chinês e um terço das exportações: por isso, a mensagem de que "Guangdong não está feliz", ardente refutação da campanha "Feliz Guangdong", lançada em janeiro pelo governador Wang Yang, agitar o poder de Pequim.
A crise, no ponto de apoio extremo da resistência econômica global, não estourou na outra semana, quando dezenas de distritos industriais foram postos sob ferro e fogo. Em Shenzhen, a gigante Foxconn, há um ano, está sendo solapada pelos suicídios em série dos operários. As primeiras greves de sucesso estouraram pouco longe dali, nas linhas de montagem deslocalizadas da Honda.
Em Meishan, desde segunda-feira, 4 mil operários de uma fábrica de bolsas, que produz para as marcas mais exclusivas do planeta, estão em greve contra turnos de 12 horas por dia por 100 euros de salário mensal. Por isso, pode parecer estranho que o atento governo central de Pequim, envolvido na transição do poder a partir de 2012, tenha perdido o controle da espinha dorsal da sua legitimação. Uma semana de guerrilha urbana, fidundida em Zhejiang, Hubei e Jiangxi. Na China, não se via isso desde a revolução de Mao.
O alarme disparou, no entanto, da constatação de que não só Guangdong já não é mais feliz. À coluna meridional da indústria, se acrescentou também aquela das matérias-primas, com a grande revolta do Norte, na Mongólia Interna das minas. E se acrescentam Xangai, ao Leste, onde a Bolsa não para de cair há meses e falta energia elétrica para enfrentar o verão, e por fim, a Oeste, também Chongqing, considerada a nova fronteira do desenvolvimento hi-tech. Aqui, segundo a propaganda, as coisas vão de vento em popa. No faroeste sem fiscalização do Império, milhares de pavilhões industriais e de arranha-céus estão desertos, 32 milhões de habitantes vivem intoxicados, e só o punho de ferro de Bo Xilai, o jovem príncipe nascente do partido, contém o excessivo poder mafioso das tríades.
Ao fracasso da "Happy Guangdong", sacudida pelas manifestações operárias escondidas, corresponde assim o triunfo das "Lições de entusiasmo vermelho", exportadas de Chongqing para as novas massas de irrefreáveis migrantes. Entre os dois polos chineses da produção e da propaganda, não está em jogo só o desafio entre Wang Yang e Bo Xilai, que tendem a disputar a hegemonia no próximo Politburo. Ao longo desse percurso, entre as canções da bandeira vermelha e das pedradas dos operários, decide-se o destino da nação candidata a liderar o mundo no século contemporâneo.
Os três mil dirigentes comunistas e os 80 milhões de inscritos no partido aplaudem o filme sobre a fundação do PCC e disputam dois milhões de cópias e 200 títulos sobre o seu próprio sucesso, "presente suntuoso para o aniversário nacional". Os 280 milhões de migrantes internos e os 540 milhões de operários começam, ao contrário, a não aceitar mais a "escravidão de Estado" e a lutar para conquistar "uma vida com menos harmonia e mais dignidade".
Só agora se começa, assim, a se intuir a inquietação de Pequim diante da ameaça de uma Revolução dos Jasmins, posta em cena no final de janeiro. Guangdong, Chongqing, Xangai e a Mongólia Interna, os quatro polos da ascensão chinesa, são sacudidos por crises locais, mas compõem o quadro de uma mesma emergência nacional: a passagem da China de um sistema econômico baseado em exportações a um sistema baseado no consumo interno, e a sua mudança social de um universo agrícola a uma galáxia de megalópoles.
Zengcheng é uma concentração explosiva também desse risco. No ano passado, depois do aumento dos salários médios para 187 euros por mês, 34% das empresas fecharam e, de 818 mil habitantes, os imigrantes romperam a marca de 502 mil. Se o Ocidente tivesse continuado a galope, o prodígio do Oriente poderia se reproduzir. Ao contrário, o mecanismo ficou no mesmo lugar. A oeste diminuíram as ordens e aumentaram as dívidas; a Leste, as fábricas se reduzem, e a inflação explode.
Para que as dificuldades econômicas mudem para o dissenso político e os muitos tumultos mudem para uma revolução, faltam as forças capazes de sintetizar uma oposição. Em todo o país, no entanto, parece ser evidente o nascimento de um bloco social combinado com uma hostilidade ao poder desconhecido há décadas. Operários escravizados, agricultores expropriados, recém-formados desempregados, empresários endividados, migrantes sem direitos, idosos sem bem-estar, dissidentes presos, grupos étnicos colonizados e aspirantes a candidatos independentes perseguidos formam uma inédita massa aideológica decidida a não festejar o próximo aniversário da nomenclatura vermelha.
A China escala posições no exterior, mas se descobre corroída por fraquezas internas subterrâneas: salários inaceitáveis, inflação fora de controle, preços dos alimentos nas alturas, insuficiência energética, desemprego em aumento, explosão da brecha entre ricos e pobres, funcionários corruptos, polícia propensa a abusos, custo insustentável dos imóveis, serviços sociais inexistentes. Os netos de Mao Zedong se veem, assim, como adversários dos filhos de Deng Xiaoping, e uma classe dirigente envelhecida se revela idônea para negar liberdades, mas inadequada para converter o a violência em saúde do crescimento.
O partido se dá conta de que 90 anos, sem reformas estruturais, mais do que a meta de uma longevidade política, é a linha de chegada de um autoritarismo. Dias atrás, enquanto os líderes de Pequim dirigiam apelos enigmáticos para "melhorar a gestão social", um documento do Banco Central do Povo revelou que, na última década, 18 mil funcionários fugiram para o exterior, com 90 bilhões de euros, e que os protestos de massa aumentaram de 9 para 180 mil. O invencível partido se autocelebra por suceder a si mesmo, compra dívidas e ideais estrangeiros, finge libertar Ai Weiwei e deixa na prisão centenas de intelectuais independentes.
A infinita e silenciosa China, ao contrário, foi sacudida como nunca depois de 1949 e de 1989. Em Guangzhou, para localizar os insurgentes, as autoridades tiveram que oferecer aos delatores 500 euros e a autorização de residência. Isso nunca havia acontecido: um pequeno tesouro em troca de um grande culpado. Não é só que Guangdong não esteja nada "happy": é que Pequim, colocando Mao em um retrato, descobre que não está mais no coração dos chineses. E que, em Zengcheng, a placa "Servir o Povo" pode permanecer quebrada na frente dos carros e das lojas queimadas.
5 de jun. de 2011
Dia Mundial do Meio Ambiente
No Dia Mundial do Meio Ambiente apresento um texto lúcido do jornalista Marco Aurélio Weissheimer sobre o novo Código do Desmatamento. O tema merece nossa reflexão e atitude.
Código Florestal: a luta entre a razão e a morte
O debate ambiental no Brasil é dominado hoje por supostos porta-vozes do "bom senso", inimigos de posições "radicais". Mas essas pessoas estão propagando a irracionalidade, não a verdade. Isso precisa ser dito assim, em alto e bom tom. São produtores de irracionalidade e de morte.
Marco Aurélio Weissheimer
O debate em torno da proposta de mudança do Código Florestal expôs, mais uma vez, a gigantesca ignorância de lideranças políticas e econômicas da nossa sociedade que se consideram seres racionais e esclarecidos. Essa ignorância, como se viu, espalha-se por boa parte do espectro político com ramificações à direita e à esquerda.
A argumentação utilizada por esses setores começa sempre afirmando, é claro, a importância de proteger o meio ambiente para, logo em seguida colocar um senão: não podemos ser radicais nesta questão, precisamos gerar renda e emprego, desenvolver o país, etc. e tal. É curioso e mesmo paradoxal que essa argumentação apele para um bom senso mítico que seria sempre o resultado de uma média matemática entre dois extremos. Você quer 2, ele quer 10, logo o bom senso nos diz para dar 6. Esse cálculo infantil pode funcionar para muitas coisas, mas certamente não serve para buscar respostas à destruição ambiental do planeta, que não cessa de aumentar.
É curioso também, mas não paradoxal neste caso, que a argumentação utilizada pelos defensores do “desenvolvimento” seja sempre a mesma, com algumas variações. Supostamente recoberta por um bom senso capaz de conciliar desenvolvimento com proteção do meio ambiente (combinação que até hoje tem sido usada para justificar toda sorte de crimes ambientais), essa argumentação, na verdade, é atravessada por falácias e por uma irracionalidade profunda, na medida em que, em última instância, volta-se contra a possibilidade de sobrevivência da razão, entendida como uma faculdade humana.
O guarda-chuva do agronegócio abriga, assim, além de muitas riquezas, armazéns lotados de falácias e irracionalidade. Não é por acaso que alguns de seus representantes cheguem ao ponto de vaiar o anúncio do assassinato de um casal de extrativistas no Pará, como aconteceu terça-feira, no Congresso Nacional. Alguém dirá: são uma minoria, a maioria desse setor é composta por gente de bem. Pode ser que sim. Se até o inferno, como se sabe, é pavimentado por boas intenções, que dirá as galerias e o plenário do nosso parlamento.
Mas voltemos ao suposto bom senso daqueles que só incluem o meio ambiente em suas falas quando é preciso flexibilizar ou eliminar alguma lei de proteção ambiental. Uma das dificuldades que os ambientalistas têm para travar esse tipo de luta é que o outro lado sempre apresenta-se como porta-voz do bom senso. O clichê “não podemos ser radicais” é usado em todas as suas possíveis variações. Os meios de comunicação e seus profissionais funcionam, em sua maioria, como produtores, reprodutores e amplificadores dessa suposta usina de bom senso e racionalidade. Em um cenário muito, mas muito otimista, algum dia poderão ser considerados como criminosos ambientais. Mas ainda estamos muito longe disso.
Em 1962, Rachel Carson lançou “A Primavera Silenciosa” nos Estados Unidos, um livro que acabou forçando a proibição do DDT e despertou a fúria da indústria dos agrotóxicos. Está publicado em português pela editora Gaia. É um livro extraordinário e luminoso que Carson dedicou a Albert Schweitzer. “O ser humano”, escreveu Schweitzer, “perdeu a capacidade de prever e de prevenir. Ele acabará destruindo a Terra”. O deputado Aldo Rebelo talvez considere essa afirmação como uma típica expressão de um representante do imperialismo que já destruiu todo o meio ambiente em seu país e agora quer evitar que “exploremos nossas riquezas naturais”. Ele parece apreciar esse tipo de falácia. Schweitzer também disse: “O ser humano mal reconhece os demônios de sua criação”. Talvez seja esse o problema.
Tudo isso, obviamente, é vã e retrógada filosofia para os porta-vozes do bom senso. Hoje, eles dominam o debate público. Mas estão errados e propagam a mentira, não a verdade. Isso precisa ser dito assim, em alto e bom tom. São produtores de irracionalidade e de morte. E a nossa sociedade vem consumindo avidamente esses produtos. Rachel Carson pergunta-se: “Estamos correndo todo esse risco – para quê? Os historiadores futuros talvez se espantem com o nosso senso de proporção distorcido”. A consciência da natureza da ameaça ainda é muito limitada, escreve ela. E conclui:
“Precisamos urgentemente acabar com essas falsas garantias, com o adoçamento das amargas verdades. A população precisa decidir se deseja continuar no caminho atual, e só poderá fazê-lo quando estiver em plena posse dos fatos. Nas palavras de Jean Rostand: “a obrigação de suportar nos dá o direito de saber”.
É disso que se trata. A sociedade tem o direito de saber e o dever de decidir querer saber. Do outro lado, estão a mentira, a destruição do planeta e a morte. Simples assim. Deixe o bom senso de lado, escolha seu lado e mãos à obra.
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
Fonte: Portal Carta Maior
Código Florestal: a luta entre a razão e a morte
O debate ambiental no Brasil é dominado hoje por supostos porta-vozes do "bom senso", inimigos de posições "radicais". Mas essas pessoas estão propagando a irracionalidade, não a verdade. Isso precisa ser dito assim, em alto e bom tom. São produtores de irracionalidade e de morte.
Marco Aurélio Weissheimer
O debate em torno da proposta de mudança do Código Florestal expôs, mais uma vez, a gigantesca ignorância de lideranças políticas e econômicas da nossa sociedade que se consideram seres racionais e esclarecidos. Essa ignorância, como se viu, espalha-se por boa parte do espectro político com ramificações à direita e à esquerda.
A argumentação utilizada por esses setores começa sempre afirmando, é claro, a importância de proteger o meio ambiente para, logo em seguida colocar um senão: não podemos ser radicais nesta questão, precisamos gerar renda e emprego, desenvolver o país, etc. e tal. É curioso e mesmo paradoxal que essa argumentação apele para um bom senso mítico que seria sempre o resultado de uma média matemática entre dois extremos. Você quer 2, ele quer 10, logo o bom senso nos diz para dar 6. Esse cálculo infantil pode funcionar para muitas coisas, mas certamente não serve para buscar respostas à destruição ambiental do planeta, que não cessa de aumentar.
É curioso também, mas não paradoxal neste caso, que a argumentação utilizada pelos defensores do “desenvolvimento” seja sempre a mesma, com algumas variações. Supostamente recoberta por um bom senso capaz de conciliar desenvolvimento com proteção do meio ambiente (combinação que até hoje tem sido usada para justificar toda sorte de crimes ambientais), essa argumentação, na verdade, é atravessada por falácias e por uma irracionalidade profunda, na medida em que, em última instância, volta-se contra a possibilidade de sobrevivência da razão, entendida como uma faculdade humana.
O guarda-chuva do agronegócio abriga, assim, além de muitas riquezas, armazéns lotados de falácias e irracionalidade. Não é por acaso que alguns de seus representantes cheguem ao ponto de vaiar o anúncio do assassinato de um casal de extrativistas no Pará, como aconteceu terça-feira, no Congresso Nacional. Alguém dirá: são uma minoria, a maioria desse setor é composta por gente de bem. Pode ser que sim. Se até o inferno, como se sabe, é pavimentado por boas intenções, que dirá as galerias e o plenário do nosso parlamento.
Mas voltemos ao suposto bom senso daqueles que só incluem o meio ambiente em suas falas quando é preciso flexibilizar ou eliminar alguma lei de proteção ambiental. Uma das dificuldades que os ambientalistas têm para travar esse tipo de luta é que o outro lado sempre apresenta-se como porta-voz do bom senso. O clichê “não podemos ser radicais” é usado em todas as suas possíveis variações. Os meios de comunicação e seus profissionais funcionam, em sua maioria, como produtores, reprodutores e amplificadores dessa suposta usina de bom senso e racionalidade. Em um cenário muito, mas muito otimista, algum dia poderão ser considerados como criminosos ambientais. Mas ainda estamos muito longe disso.
Em 1962, Rachel Carson lançou “A Primavera Silenciosa” nos Estados Unidos, um livro que acabou forçando a proibição do DDT e despertou a fúria da indústria dos agrotóxicos. Está publicado em português pela editora Gaia. É um livro extraordinário e luminoso que Carson dedicou a Albert Schweitzer. “O ser humano”, escreveu Schweitzer, “perdeu a capacidade de prever e de prevenir. Ele acabará destruindo a Terra”. O deputado Aldo Rebelo talvez considere essa afirmação como uma típica expressão de um representante do imperialismo que já destruiu todo o meio ambiente em seu país e agora quer evitar que “exploremos nossas riquezas naturais”. Ele parece apreciar esse tipo de falácia. Schweitzer também disse: “O ser humano mal reconhece os demônios de sua criação”. Talvez seja esse o problema.
Tudo isso, obviamente, é vã e retrógada filosofia para os porta-vozes do bom senso. Hoje, eles dominam o debate público. Mas estão errados e propagam a mentira, não a verdade. Isso precisa ser dito assim, em alto e bom tom. São produtores de irracionalidade e de morte. E a nossa sociedade vem consumindo avidamente esses produtos. Rachel Carson pergunta-se: “Estamos correndo todo esse risco – para quê? Os historiadores futuros talvez se espantem com o nosso senso de proporção distorcido”. A consciência da natureza da ameaça ainda é muito limitada, escreve ela. E conclui:
“Precisamos urgentemente acabar com essas falsas garantias, com o adoçamento das amargas verdades. A população precisa decidir se deseja continuar no caminho atual, e só poderá fazê-lo quando estiver em plena posse dos fatos. Nas palavras de Jean Rostand: “a obrigação de suportar nos dá o direito de saber”.
É disso que se trata. A sociedade tem o direito de saber e o dever de decidir querer saber. Do outro lado, estão a mentira, a destruição do planeta e a morte. Simples assim. Deixe o bom senso de lado, escolha seu lado e mãos à obra.
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
Fonte: Portal Carta Maior
3 de jun. de 2011
Capitu na Casa Civil
Capitolina (Capitu, como é conhecida), é uma personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, publicado em 1899. A República completava dez anos.
Capitu penetrou no imaginário coletivo como tipo feminino, justificando estudos psicológicos e literários. Segundo Maria Lucia Silveira Rangel, Capitu é a personagem "mais discutida, a mais famosa”, e seria repetição falar sobre a grande dúvida em que o escritor deixa o leitor sobre o adultério da esposa de Bentinho.
Capitu, conhecida por seus olhos de ressaca e Bentinho com sua insegurança em relação à ninfa (como a chama no primeiro beijo do casal), nos faz lembrar dos nossos próprios medos e receios. E o fim do livro nos deixa uma dúvida: afinal ela traiu ou não Casmurro?
Creio que o Ministro Palocci é a nossa Capitu. Talvez jamais seja revelado o seu “modus operandi”, mas nem precisa, somos macacos velhos e cansados e sabemos de toda essa maracutaia de assessoria, lavagem de dinheiro, fonte de financiamento e tráfico de influências. Estou curioso para saber quem são as fontes pagadoras. Serão os mesmos doadores da sua campanha para deputado federal?
Para o bem do governo, do PT e da política brasileira, o excelentíssimo ministro deveria renunciar.
Afinal queremos ou não uma Capitu na Casa Civil?
Renuncia Palocci, já!
27 de mai. de 2011
APROVARAM NA CÂMARA FEDERAL O NOVO CÓDIGO DO DESMATAMENTO!
93% dos deputados paranaenses votaram a favor do novo Código Florestal
Dos 29 deputados federais do Paraná presentes à sessão deliberativa do Plenário da Câmara de ontem (24), apenas dois votaram contra o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP) que altera o Código Florestal Brasileiro. Foram eles o Dr. Rosinha (PT) e Rosane Ferreira (PV). O nome do Delegado Francischine (PSDB) não apareceu na lista de votantes.
O tema gerou muita polêmica junto à sociedade e causou divergências entre parlamentares da oposição, governistas e da base de sustentação. O resultado foi o seguinte: 410 votos a favor do novo Código Florestal, 63 contrários e apenas uma abstenção.
A pauta segue agora para o Senado. Segundo a agência internacional de notícias Reuters, a presidenta Dilma Rousseff ficou irritada com a aprovação do Código Florestal pela Câmara e garantiu a uma fonte do governo que participou das negociações que, caso a base do Senado não consiga promover mudanças no relatório, vetará os trechos do texto que considera equivocados.
:: Principais mudanças aprovadas
Margem de rios: Os pequenos produtores que já desmataram suas Áreas de Preservação Permanente (APP’s) em margem de rio poderão recompor a área em 15 metros a partir do rio. Médios e grandes proprietários devem recuperar em 30 metros.
Isenção aos pequenos agricultores: O texto isenta os pequenos produtores da obrigatoriedade de recompor reserva legal em propriedades de até quatro módulos fiscais. Um módulo varia de 40 a 100 hectares conforme a região.
Anistia aos desmatadores: todas as multas aplicadas por desmatamento até julho de 2008 serão suspensas caso o agricultor entre no Programa de Regularização Ambiental. Se cumprir com as regras do programas, será anistiado.
Cultivos em APP’s: O texto-base do relator garantiria que algumas plantações, a exemplo da maçã e do café, poderia ter seu cultivo mantido em APP’s. Entretanto, o que pode ou não ficou de fora do texto. Após um amplo acordo, foram estipuladas as regras por meio de uma emenda ao texto-base, a 164. Ela estabelece que a União deve definir as regras gerais e os estados estipulariam o que pode ser cultivado nas APP’s. O governo federal foi contra porque quer exclusividade na definição.
:: Posicionamento dos deputados federais do Paraná
Abelardo Lupion (DEM): Sim
Alex Canziani (PTB): Sim
Alfredo Kaefer (PSDB): Sim
André Vargas (PT): Sim
André Zacharow (PMDB): Sim
Angelo Vanhoni (PT): Sim
Assis do Couto (PT): Sim
Cida Borghetti (PP): Sim
Delegado Francischini (PSDB): Ausente
Dilceu Sperafico (PP): Sim
Dr. Rosinha (PT): Não
Edmar Arruda (PSC): Sim
Eduardo Sciarra (DEM): Sim
Giacobo (PR): Sim
Hermes Parcianello (PMDB): Sim
João Arruda (PMDB): Sim
Leopoldo Meyer (PSB): Sim
Luiz Carlos Setim (DEM): Sim
Luiz Nishimori (PSDB): Sim
Moacir Micheletto (PMDB): Sim
Nelson Meurer (PP): Sim
Nelson Padovani (PSC): Sim
Osmar Serraglio (PMDB): Sim
Ratinho Junior (PSC): Sim
Reinhold Stephanes (PMDB): Sim
Rosane Ferreira (PV): Não
Rubens Bueno (PPS): Sim
Sandro Alex (PPS): Sim
Takayama (PSC): Sim
Zeca Dirceu (PT): Sim
NOTA DO BLOG:
Anotem no caderninho o nome dos que votaram a favor do novo código do desmatamento. Na próxima eleição NÃO VOTE NELES NÃO!
Ah, não esqueçam do ex-comunista, lacaio do agronegócio Deputado Federal Aldo Rebelo (PC do B - SP).
RESTA PARA A PRESIDENTE DILMA VETAR ESSA BARBARIDADE!
Dos 29 deputados federais do Paraná presentes à sessão deliberativa do Plenário da Câmara de ontem (24), apenas dois votaram contra o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP) que altera o Código Florestal Brasileiro. Foram eles o Dr. Rosinha (PT) e Rosane Ferreira (PV). O nome do Delegado Francischine (PSDB) não apareceu na lista de votantes.
O tema gerou muita polêmica junto à sociedade e causou divergências entre parlamentares da oposição, governistas e da base de sustentação. O resultado foi o seguinte: 410 votos a favor do novo Código Florestal, 63 contrários e apenas uma abstenção.
A pauta segue agora para o Senado. Segundo a agência internacional de notícias Reuters, a presidenta Dilma Rousseff ficou irritada com a aprovação do Código Florestal pela Câmara e garantiu a uma fonte do governo que participou das negociações que, caso a base do Senado não consiga promover mudanças no relatório, vetará os trechos do texto que considera equivocados.
:: Principais mudanças aprovadas
Margem de rios: Os pequenos produtores que já desmataram suas Áreas de Preservação Permanente (APP’s) em margem de rio poderão recompor a área em 15 metros a partir do rio. Médios e grandes proprietários devem recuperar em 30 metros.
Isenção aos pequenos agricultores: O texto isenta os pequenos produtores da obrigatoriedade de recompor reserva legal em propriedades de até quatro módulos fiscais. Um módulo varia de 40 a 100 hectares conforme a região.
Anistia aos desmatadores: todas as multas aplicadas por desmatamento até julho de 2008 serão suspensas caso o agricultor entre no Programa de Regularização Ambiental. Se cumprir com as regras do programas, será anistiado.
Cultivos em APP’s: O texto-base do relator garantiria que algumas plantações, a exemplo da maçã e do café, poderia ter seu cultivo mantido em APP’s. Entretanto, o que pode ou não ficou de fora do texto. Após um amplo acordo, foram estipuladas as regras por meio de uma emenda ao texto-base, a 164. Ela estabelece que a União deve definir as regras gerais e os estados estipulariam o que pode ser cultivado nas APP’s. O governo federal foi contra porque quer exclusividade na definição.
:: Posicionamento dos deputados federais do Paraná
Abelardo Lupion (DEM): Sim
Alex Canziani (PTB): Sim
Alfredo Kaefer (PSDB): Sim
André Vargas (PT): Sim
André Zacharow (PMDB): Sim
Angelo Vanhoni (PT): Sim
Assis do Couto (PT): Sim
Cida Borghetti (PP): Sim
Delegado Francischini (PSDB): Ausente
Dilceu Sperafico (PP): Sim
Dr. Rosinha (PT): Não
Edmar Arruda (PSC): Sim
Eduardo Sciarra (DEM): Sim
Giacobo (PR): Sim
Hermes Parcianello (PMDB): Sim
João Arruda (PMDB): Sim
Leopoldo Meyer (PSB): Sim
Luiz Carlos Setim (DEM): Sim
Luiz Nishimori (PSDB): Sim
Moacir Micheletto (PMDB): Sim
Nelson Meurer (PP): Sim
Nelson Padovani (PSC): Sim
Osmar Serraglio (PMDB): Sim
Ratinho Junior (PSC): Sim
Reinhold Stephanes (PMDB): Sim
Rosane Ferreira (PV): Não
Rubens Bueno (PPS): Sim
Sandro Alex (PPS): Sim
Takayama (PSC): Sim
Zeca Dirceu (PT): Sim
NOTA DO BLOG:
Anotem no caderninho o nome dos que votaram a favor do novo código do desmatamento. Na próxima eleição NÃO VOTE NELES NÃO!
Ah, não esqueçam do ex-comunista, lacaio do agronegócio Deputado Federal Aldo Rebelo (PC do B - SP).
RESTA PARA A PRESIDENTE DILMA VETAR ESSA BARBARIDADE!
27 de fev. de 2011
Literatura brasileira perde um mestre
Aos 73 anos, o porto-alegrense Moacyr Jaime Scliar havia construído uma obra sólida, com mais de um livro publicado para cada ano de vida, em uma ampla gama de gêneros: contos, romances, literatura infanto-juvenil, ensaios. Além disso, era colunista frequente de uma dezena de publicações, de jornais diários como Zero Hora e Folha de S. Paulo a revistas técnicas. Escrevia em qualquer lugar a qualquer hora, auxiliado pela tecnologia – jamais viajava sem seu laptop. Tal dedicação à palavra e ao ofício que exercia com evidente prazer transformaram Scliar em um dos autores mais respeitados do Brasil.
Scliar morreu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde estava internado desde 11 de janeiro. O escritor havia sido admitido no hospital para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia, simples, havia transcorrido sem complicações. Scliar já se recuperava quando sofreu um AVC – obstrução de uma artéria que irriga o cérebro – de extrema gravidade.
Scliar nasceu em 1937, no bairro judaico do Bom Fim, em Porto Alegre, filho de José e Sara Scliar – a mãe, professora primária, seria a grande responsável pela paixão do escritor pelas letras: foi ela quem o alfabetizou. Formado médico sanitarista pela UFRGS, ingressou na profissão em 1962. Casado com Judith, professora, e pai do fotógrafo Roberto, Scliar havia também passado pela experiência de professor visitante em universidades estrangeiras e tinha obras traduzidas em uma dezena de idiomas, entre elas o russo e o hebraico. O trabalho como médico de saúde pública seria crucial na vida e na obra de Scliar – seu primeiro livro, publicado em 1962, foi uma coletânea de contos inspirados pela prática médica, Histórias de Médico em Formação, volume que mais tarde Scliar excluiria de sua bibliografia oficial por considerá-lo a obra prematura de um autor que ainda não estava pronto.
Nos seus livros seguintes, Scliar jamais se permitiria outra publicação prematura. Do mesmo modo como escrevia com velocidade e prazer, Scliar também revisava obsessivamente o próprio texto, a ponto de às vezes reescrever uma obra do zero por ter encontrado um ponto de vista narrativo mais adequado.
— Se o escritor não tiver prazer escrevendo, o leitor também não terá — comentou em uma entrevista concedida quando completou 70 anos, em 2007.
Scliar morreu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde estava internado desde 11 de janeiro. O escritor havia sido admitido no hospital para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia, simples, havia transcorrido sem complicações. Scliar já se recuperava quando sofreu um AVC – obstrução de uma artéria que irriga o cérebro – de extrema gravidade.
Scliar nasceu em 1937, no bairro judaico do Bom Fim, em Porto Alegre, filho de José e Sara Scliar – a mãe, professora primária, seria a grande responsável pela paixão do escritor pelas letras: foi ela quem o alfabetizou. Formado médico sanitarista pela UFRGS, ingressou na profissão em 1962. Casado com Judith, professora, e pai do fotógrafo Roberto, Scliar havia também passado pela experiência de professor visitante em universidades estrangeiras e tinha obras traduzidas em uma dezena de idiomas, entre elas o russo e o hebraico. O trabalho como médico de saúde pública seria crucial na vida e na obra de Scliar – seu primeiro livro, publicado em 1962, foi uma coletânea de contos inspirados pela prática médica, Histórias de Médico em Formação, volume que mais tarde Scliar excluiria de sua bibliografia oficial por considerá-lo a obra prematura de um autor que ainda não estava pronto.
Nos seus livros seguintes, Scliar jamais se permitiria outra publicação prematura. Do mesmo modo como escrevia com velocidade e prazer, Scliar também revisava obsessivamente o próprio texto, a ponto de às vezes reescrever uma obra do zero por ter encontrado um ponto de vista narrativo mais adequado.
— Se o escritor não tiver prazer escrevendo, o leitor também não terá — comentou em uma entrevista concedida quando completou 70 anos, em 2007.
Fonte: Clic RBS
NOTA DO BLOGUEIRO:
Eu cruzei três vezes na minha vida com o escritor Moacyr Scliar. Em 1976, quando ele palestrou num evento de escolas, em Porto Alegre. Em 1985, Na Ulbra, em Canoas, quando participou de uma palestra patrocinada pela universidade. Na época autografou para mim o livro Ciclo das Águas que infelizmente perdeu-se nas mudanças que fiz. Mas fui conhecer mesmo um pouco do escritor Scliar, no ano passado. Ele participou do Café Literário, da Bienal do Livro, aqui em Curitiba, no dia 1º de outubro. Falou sobre o tema “A Construção do leitor: o poder da sedução da literatura", Scliar comentou que a família tem um papel importante na formação do leitor, e que isso não é só uma questão de genoma. “A maneira como a gente vive a infância é determinante para a nossa formação como leitores. Hoje não viajo sem um livro, posso viajar sem a escova de dentes”, brincou e ressaltou: “levo a escova também porque sou médico sanitarista”. Foi um encontro inesquecível, depois participamos da sessão de autógrafos do seu livro "Eu vos abraço Milhões". Eu e minha esposa tivemos a oportunidade de conversar um pouco com ele, sempre muito simpático permitiu que registrássemos o momento com uma foto que será guardada com carinho em nosso álbum.
Shalom, Scliar!
26 de fev. de 2011
Brasil - Recordar é vencer!
No ano do Centenário Xavante, diretoria do Brasil busca inspiração na história e aposta em comissão técnica enraizada no clube
Imbuída com o Centenário Xavante, a Direção Executiva do GE Brasil decidiu buscar alternativas diferenciadas para tornar esta passagem, que já é emblemática, o mais marcante possível na história do clube da Baixada. Entre as várias ações especiais, que pretendem transformar o aniversário de 100 anos de fundação em sinônimo de sucesso, uma das primeiras a ser colocada em prática foi inspirada justamente no passado, armando uma comissão técnica que remonta uma gloriosa sina de conquistas de outrora.
Desde o técnico, até o auxiliar da preparação física, todos os integrantes da equipe que comanda o vestiário do Bento Freitas têm raízes no clube e muita identificação com o vermelho e preto. A partir dessa intimidade é que a diretoria aposta as fichas para que o time deste ano resgate o verdadeiro espírito da garra Xavante, e volte a triunfar como no tempo em que Hélio, Cléber, Cássio, Canela e Xuxu entravam em campo com a camisa rubro-negra.
- A formação dessa comissão técnica é uma história bastante interessante, pois o Hélio estava na cidade e sempre mostrou vontade de treinar o Brasil no ano do centenário, e nós já estávamos com o Cássio, o Canela, o Xuxu, e o Cléber praticamente acertado também. Aí, então, se criou a idéia de montar esse grupo com gente da casa. Porque era uma forma de trazer para dentro do clube profissionais que transmitissem aos jogadores aquele passado vitorioso do Brasil, aquela força rubro-negra que emergia dentro de campo, retransmitindo isso também para torcida imensa que nosso clube possui, que dá inveja a todos os clubes do interior – contou o Vice-presidente de Futebol da Baixada, Elzaide Lahm, o Peto.
Só para se ter uma ideia, juntos, os integrantes da atual comissão técnica disputaram nada menos do que 1093 partidas defendendo o Brasil, e colocaram 17 troféus no Salão de Honra da Baixada. Abaixo, você confere um pouco da história de cada um deles e a expectativa que carregam para o Centenário Xavante.
Imbuída com o Centenário Xavante, a Direção Executiva do GE Brasil decidiu buscar alternativas diferenciadas para tornar esta passagem, que já é emblemática, o mais marcante possível na história do clube da Baixada. Entre as várias ações especiais, que pretendem transformar o aniversário de 100 anos de fundação em sinônimo de sucesso, uma das primeiras a ser colocada em prática foi inspirada justamente no passado, armando uma comissão técnica que remonta uma gloriosa sina de conquistas de outrora.
Desde o técnico, até o auxiliar da preparação física, todos os integrantes da equipe que comanda o vestiário do Bento Freitas têm raízes no clube e muita identificação com o vermelho e preto. A partir dessa intimidade é que a diretoria aposta as fichas para que o time deste ano resgate o verdadeiro espírito da garra Xavante, e volte a triunfar como no tempo em que Hélio, Cléber, Cássio, Canela e Xuxu entravam em campo com a camisa rubro-negra.
- A formação dessa comissão técnica é uma história bastante interessante, pois o Hélio estava na cidade e sempre mostrou vontade de treinar o Brasil no ano do centenário, e nós já estávamos com o Cássio, o Canela, o Xuxu, e o Cléber praticamente acertado também. Aí, então, se criou a idéia de montar esse grupo com gente da casa. Porque era uma forma de trazer para dentro do clube profissionais que transmitissem aos jogadores aquele passado vitorioso do Brasil, aquela força rubro-negra que emergia dentro de campo, retransmitindo isso também para torcida imensa que nosso clube possui, que dá inveja a todos os clubes do interior – contou o Vice-presidente de Futebol da Baixada, Elzaide Lahm, o Peto.
Só para se ter uma ideia, juntos, os integrantes da atual comissão técnica disputaram nada menos do que 1093 partidas defendendo o Brasil, e colocaram 17 troféus no Salão de Honra da Baixada. Abaixo, você confere um pouco da história de cada um deles e a expectativa que carregam para o Centenário Xavante.
12 de fev. de 2011
Mundo árabe - declina a influência do Ocidente
06/02/20111
No mundo árabe, os Estados Unidos e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Um exemplo conhecido é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical (e do terrorismo islâmico). Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses, que implementou um programa de islamização radical (com financiamento saudita). O artigo é de Noam Chomsky.
Noam Chomsky – La Jornada
O mundo árabe está em chamas, informou a Al Jazeera no dia 27 de janeiro, enquanto os aliados de Washington perdem rapidamente influência em toda a região. A onda de choque foi posta em movimento pelo dramático levante na Tunísia que derrubou um ditador apoiado pelo Ocidente, com reverberações, sobretudo no Egito, onde os manifestantes enfrentaram a polícia de um ditador brutal. Alguns observadores compararam os acontecimentos com a queda dos domínios russos em 1989, mas há importantes diferenças.
Uma diferença crucial é que não existe um Mikhail Gorbachov entre as grandes potências que apoiam os ditadores árabes. Ao invés disso, Washington e seus aliados mantem o princípio bem estabelecido de que a democracia é aceitável só na medida em que se conforme a objetivos estratégicos e econômicos: ela é magnífica em território inimigo (até certo ponto), mas em nosso quintal, a menos que possa ser domesticada de forma apropriada.
Uma comparação com 1989 tem certa validade: Romênia, onde Washington manteve seu apoio a Nicolae Ceausescu, o mais cruel dos ditadores europeus, até que a aliança se tornou insustentável. Depois, Washington aplaudiu sua derrubada, quando se apagou o passado. É uma pauta típica: Ferdinando Marcos, Jean-Claude Duvalier, Chun Doo Hwan, Suharto e muitos outros gangsteres úteis. Pode estar em marcha no caso de Hosni Mubarak, junto com esforços de rotina para assegurar-se de que o regime sucessor não se desviará muito da senda apropriada.
A esperança atual parece residir no general Omar Suleiman, leal a Mubarak e recém nomeado vice-presidente do Egito. Suleiman, que durante muito tempo encabeçou os serviços de inteligência, é desprezado pelo povo rebelde quase tanto como o próprio ditador. Um refrão comum entre os especialistas é que o temor de um Islã radical requer uma oposição à democracia em bases pragmáticas. Mesmo que possa ter algum mérito, a formulação induz ao erro. A ameaça geral sempre foi a independência. No mundo árabe, os Estados Unidos e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Um exemplo conhecido é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical (e do terrorismo islâmico). Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses, que implementou um programa de islamização radical (com financiamento saudita).
O argumento tradicional que se esgrime dentro e fora do mundo árabe é que não está ocorrendo nada, tudo está sob controle, como assinala Marwan Muasher, ex-funcionário jordaniano e atual diretor de investigação sobre Oriente Médio da Fundação Carnegie. Com essa linha de pensamento, as forças consolidadas sustentam que os opositores e estrangeiros que demandam reformas exageram as condições no terreno.
Portanto, o povo sai sobrando. A doutrina remonta a muito atrás e se generaliza no mundo inteiro, incluindo o território nacional estadunidense. Em caso de perturbação podem ser necessárias mudanças de tática, mas
sempre com vista a recuperar o controle.
O vibrante movimento democrático da Tunísia foi dirigido contra um Estado policial com pouca liberdade de expressão ou associação e graves problemas de direitos humanos, encabeçado por um ditador cuja família era odiada por sua venalidade. Essa foi a avaliação do embaixador estadunidense Robert Godec em um telegrama de julho de 2009, filtrado por Wikileaks.
Portanto, para alguns observadores os “documentos (de Wikileaks) devem criar um cômodo sentimento entre o público estadunidense de que os funcionários não estão dormindo no posto”, ou seja, os telegramas escoram de tal maneira as políticas estadunidenses que é quase como se o próprio Obama os tivesse filtrando (como escreve Jacob Heilbrunn, em The National Interest).
Os EUA devem dar uma medalha a Assange, assinala um analista do Financial Times. O chefe de analistas de política externa, Gideon Rachman, escreve que a política externa estadunidense se desenha de forma ética, inteligente e pragmática e que a postura adotada publicamente pelos EUA sobre um tema dado é, em geral, a mesma postura mantida privadamente. Segundo este ponto de vista, Wikileaks enfraquece a posição dos teóricos da conspiração que questionam os nobres motivos que Washington proclama com regularidade.
O telegrama de Godec apoia estes juízos, ao menos se não olhamos mais longe. Se fazemos isso, como reporta o analista político Stephen Zunes em Foreign Policy in Focus, descobrimos que, com a informação de Godec em mãos, Washington proporcionou 12 milhões de dólares em ajuda militar a Tunísia. Na verdade, a Tunísia foi um dos cinco únicos beneficiários estrangeiros: Israel (de rotina), Egito, Jordânia – ditaduras do Oriente Médio – e Colômbia, que há muito tempo tem a pior história de direitos humanos e recebe a maior ajuda militar estadunidense no hemisfério.
A prova A de Heilbrunn é o apoio árabe às políticas estadunidenses dirigidas contra o Irã, conforme mostram os telegramas divulgados. Rachman também se serve deste exemplo, como fizeram os meios de comunicação em geral, para elogiar estas alentadoras revelações. As reações ilustram o quão profundo é o desprezo pela democracia entre certas mentes cultivadas.
O que não se menciona é o que pensa a população...o que se descobre com facilidade. Segundo pesquisas divulgadas em agosto de 2010 pela instituição Brookings, alguns árabes estão de acordo com Washington e com os comentaristas ocidentais no sentido de que o Irã é uma ameaça: 10 por cento. Em contraste, consideram que Estados Unidos e Israel são as maiores ameaças (77 e 88%, respectivamente).
A opinião árabe é tão hostil às políticas de Washington que uma maioria (57%) pensa que a segurança regional melhoraria se o Irã tivesse armas nucleares. Ainda assim, não ocorre nada, tudo está sob controle (como Marwan Muasher descreve a fantasia dominante). Os ditadores nos apoiam: podemos esquecer-nos de seus súditos...a menos que rompam suas cadeias, o que exigiria ajustar a política.
Outras revelações também parecem apoiar os juízos entusiastas sobre a nobreza de Washington. Em julho de 2009, Hugo Llores, embaixador dos EUA em Honduras, informou Washington sobre uma investigação da embaixada relativa a “aspectos legais e constitucionais em torno da remoção forçada do presidente Manuel Mel Zelaya, em 28 de junho”. A embaixada concluiu que não há dúvida de que os militares, a Suprema Corte e o Congresso Nacional conspiraram em 28 de junho, no que representou um golpe ilegal e anticonstitucional contra o poder Executivo.
Muito admirável, exceto pelo fato de que o presidente Obama rompeu com quase toda América Latina e Europa ao apoiar o regime golpista e desculpar as atrocidades posteriores.
Talvez as revelações mais surpreendentes de Wikileaks tenham a ver com o Paquistão, investigadas pelo analista em política externa Fred Branfman, em Truthdig. Os telegramas revelam que a embaixada estadunidense está bem consciente de que a guerra de Washington no Afeganistão e no Paquistão não só intensifica o sentimento anti-EUA, mas também cria o risco de desestabilizar o Estado paquistanês e inclusive coloca a ameaça do pesadelo final: as armas nucleares poderiam cair em mãos de terroristas islâmicos.
Uma vez mais, as revelações devem criar um sentimento tranquilizador de que os funcionários não estão dormindo no posto (nas palavras de Heilbrun), enquanto Washington marcha inexoravelmente para o desastre.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: www.cartamaior.com.br
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